Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu Banco do Brasil

Não há lado bom no desemprego, nem na interferência de Bolsonaro no BB

A euforia da eleição que traria Paulo Guedes como superministro foi amornando e, hoje, transformou-se em pessimismo

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Quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República, carregando a tiracolo o ministro da Economia Paulo Guedes, as ações do Banco do Brasil deram um salto.

Para os investidores, na verdade, era Guedes que carregava Bolsonaro. E a alta de mais de 40% nos preços em um mês se explicou à época pela promessa de um governo com foco em privatizar as estatais e se desfazer do controle do banco.

Já entre a posse de Bolsonaro e fevereiro de 2020, antes do baque causado pelo coronavírus na economia, os papéis do Banco do Brasil tiveram desempenho abaixo do Ibovespa, que reflete o mercado como um todo, e do IFNC, índice que representa o desempenho das instituições financeiras na Bolsa.

Com a pandemia, a diferença se agravou e as ações do banco hoje são vendidas a preços significativamente mais baixos do que em janeiro de 2019, enquanto o Ibovespa subiu mais de 30% e o IFNC subiu mais de 15%.

Os dados são esses. As conclusões podem ser algumas. Uma delas é que a euforia da eleição que traria o autoproclamado liberal Paulo Guedes como superministro foi amornando e, hoje, transformou-se em pessimismo.

As privatizações são uma promessa adiada a cada novo discurso. A culpa é atribuída a terceiros, como de praxe. E o dono da culpa não importa para quem põe e tira dinheiro das ações do BB.

Inflados pelos fatores políticos, os papéis foram, com o passar do tempo, caindo e se aproximando do valor que o mercado efetivamente vê na empresa.

Quem os comprou buscando segurança, pelo histórico e solidez da companhia (e não para especular com uma possível privatização), acabou levando a pior.

Como se isso não bastasse, esse investidor agora se viu em meio a um tiroteio entre o presidente da República e o presidente do banco, André Brandão.

Em uma jogada que tinha tudo para agradar o mercado, a instituição anunciou cortes que levariam a uma economia líquida de R$ 2,7 bilhões até 2025, mantendo a sua capacidade de gerar lucro.

O preço disso seria o desligamento de cerca de 5 mil funcionários.

Mal deu tempo de o mercado reagir ao anúncio. Irritado com o anúncio das demissões, Bolsonaro fez chegar a público que pedira a cabeça de Brandão. E as ações do BB tombaram coisa de 5%.

Acontece que no mesmo dia a Ford anunciou que fechará suas fábricas no Brasil, o que deve levar a outras 5 mil demissões, sem contar o impacto indireto.

Em menos de 24 horas, cerca de 10 mil pessoas foram virtualmente para a fila do desemprego. E não agradou a Bolsonaro ter essa conta pendurada no seu mandato.

Não cabe discutir se existe lado positivo no desemprego de 10 mil pessoas. Não existe. O que se deve questionar é a influência de arroubos de humor de políticos em empresas cujas ações são negociadas em bolsa.

Ao contrário do que acontece no BB, o presidente não tem o poder de trocar nem ameaçar o posto do CEO da Ford. E após o anúncio dos cortes, os papéis da empresa estão subindo na NYSE, a Bolsa de Valores de Nova York.

A montadora afirma que a mudança permitirá a ela ter modelo de negócios ágil e sustentável na América do Sul, abandonando as fábricas que estão com capacidade ociosa e vendas reduzidas.

Até o fechamento desta coluna, não há anúncio oficial sobre a permanência ou não de André Brandão no cargo. A incerteza se estende à manutenção do plano de cortes.

O Banco do Brasil já deixou documentado que um dos riscos de seu negócio é que a União, na condição de acionista controlador, “poderia eventualmente influenciar as decisões dos conselheiros de administração cuja indicação lhe compete, no sentido de que o Banco desenvolva atividades negociais que priorizem objetivos ou programas de interesse governamental”.

Caberia acrescentar que a incerteza sobre os caminhos adotados pelo presidente e a forma errática de comunicação adotada pelo governo podem reduzir o patrimônio de seus acionistas.

A declaração, aliás, está em seu “formulário de referência”, documento que as empresas são obrigadas a divulgar ao mercado e que deveria ser lido, ao menos com uma “passadinha de olho”, por quem compra ou quer comprar ações de uma companhia.

A outra dica que fica para quem acompanha o drama do BB é usar índices setoriais, como o IFNC citado acima, para entender se a empresa cujas ações você quer comprar está seguindo ou abandonando a tendência de seu mercado.

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