Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Como a Bolsa comemora a interferência de Bolsonaro no Congresso

O ponto de virada de pessimismo para otimismo condiz justamente com a eleição do deputado Arthur Lira

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O Ibovespa, índice de ações que reflete o mercado brasileiro, voltou a bater seus 120 mil pontos, num respiro aliviado dos investidores, depois de despencar 8% em uma semana cheia de incertezas.

O ponto de virada de pessimismo para otimismo condiz justamente com a eleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados. Ele entra no lugar de Rodrigo Maia (DEM-RJ), cujos embates verbais com o governo Bolsonaro são notórios.

E o que isso significou para o mercado? Que o governo agora pode ter mais tranquilidade para pautar as reformas e privatizações prometidas lá atrás, quando Jair Bolsonaro era um deputado do baixo clero tentando a presidência e Paulo Guedes seu fiador e aspirante a superministro.

O “super” foi deixando de sê-lo. As privatizações não saíram do papel, os responsáveis por elas estão abandonando seus cargos e as reformas não deram sinal. Até agora.

Depois de passar os dois primeiros anos de seu mandato culpando o Congresso por travar as pautas “liberais” da economia, o governo tem agora aliados à frente das duas casas legislativas. Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no Senado.

Durante a campanha no Legislativo, Bolsonaro movimentou-se. Liberou mais de R$ 500 milhões em emendas parlamentares para a Câmara e o Senado em janeiro e abriu o cadastro para inscrição de municípios em programas federais que terão verbas carimbadas por deputados.

Enquanto seus adversários carimbaram a iniciativa como “compra de votos” para a eleição, os investidores enxergaram que finalmente o presidente da República começou a fazer política. Criar aliados, colocá-los em lugares estratégicos e avançar pautas do governo.

É preciso levar em conta que a verba de emendas não vai para o bolso dos parlamentares. Os valores são para projetos apresentados e aprovados, de forma que os membros do Congresso consigam fazer aquilo para que foram eleitos.

No fim do dia, o governo deixou de lado aquela história de nova política, se aliou ao centrão e criou uma oportunidade de dar andamento para seus projetos.

Com isso, chegou a promessa de uma reforma tributária unificada sair do papel ainda neste ano, o que facilitaria a vida das empresas, diminuindo as incertezas sobre o ambiente de negócios aqui.

Ainda que todos os projetos apresentados até agora pela equipe de Paulo Guedes signifiquem o aumento da carga de impostos, como afirma o tributarista Fernando Facury Scaff, professor da USP, tornar o sistema menos complexo é bem avaliado por investidores, sempre em busca de segurança.

A vacinação contra Covid-19 tem sido mínima. As perspectivas de a economia voltar aos patamares de antes da pandemia ainda são poucas. O varejo segue mal das pernas. E o Itaú prevê o aumento da inadimplência em 2021.

A “compra de votos” com emendas parlamentares, que deixou o Congresso alinhado com o governo, no entanto, tem sido celebrada com investidores indo às compras, ainda que gente como o ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, afirme com todas as letras que a eleição de Arthur Lira como presidente da Câmara torna a permanência de Paulo Guedes no ministério da Economia mais difícil.

Segundo Mendonça de Barros, agora que o governo federal finalmente está alinhado com o Congresso, se Guedes decidir enfrentar os parlamentares por conta de entraves a seus projetos, pode acabar defenestrado pelo presidente.

Ainda assim, de acordo com os números, o mercado parece ainda acreditar que a culpa da falta de privatizações e pela dificuldade em fazer reformas estruturais pode ser jogada em Rodrigo Maia.

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