Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu Selic juros copom

A Selic, a poupança e sua carteira de ações

Com a mudança da Selic, pergunta do investidor é: quais ações da sua carteira dependem de estímulos ao consumo?

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A elevação da taxa Selic para 2,75% ao ano é a manchete da semana. Pudera. Não pelo efeito imediato, que deve ser pouco, mas por apontar uma mudança de tendência.

Começar a elevar a taxa básica de juros, buscando combater a inflação (prevista para 4,42% ao ano no fim de 2021) é uma estratégia que tem tudo para abalar o mundo dos investimentos.

Calma, não é hora de colocar o dinheiro que você aplicou em outros produtos de volta na poupança. A mudança de 0,75 pontos percentuais não torna o rendimento da caderneta (atualmente, 70% da Selic) atraente para quem busca rendimento.

Elevação da taxa Selic para 2,75% surpreendeu mercado financeiro; na foto, Bolsa de Valores de São Paulo - Nelson Almeida - 22.fev.2021/AFP

No cálculo simples, R$ 1.000 aplicados por dois anos na poupança, com a Selic a 2,75%, renderiam um pouco menos de R$ 40.

É um rendimento baixo se comparado a outros investimentos de renda fixa, também garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), e até mesmo isentos de Imposto de Renda, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) disponíveis no mercado.

Hoje, o investidor encontra ofertas de CDBs com vencimento em dois anos que rendem 150% do CDI ou até mesmo 160% do CDI, o que, daria uma expectativa de retorno de mais de R$ 70 e cerca de R$ 85, respectivamente, para o investimento de R$ 1.000.

Até mesmo em LCIs com rendimento de 120% do CDI, esse dinheiro renderia pouco menos de R$ 60, o que já é significativamente maior do que os quase R$ 40 esperados com a poupança.

Os investimentos no Tesouro Selic (ou Tesouro Direto), por sua vez, que rendem a Selic mais uma pequena taxa, como têm incidência de Imposto de Renda, ainda renderiam um pouco menos que a poupança em 24 meses.

Mas (sempre tem um “mas”) os economistas mais conservadores já projetam que a Selic terá novos aumentos, atingindo 4,5% ao ano no fim de 2021. Fazendo o mesmo exercício acima, os mesmos R$ 1.000 pelos mesmos 2 anos, renderiam já mais de R$ 60.

Ao tornar o crédito mais caro na praça e aumentar a atratividade dos títulos públicos, o BC busca combater a inflação. Enquanto Estados Unidos e Reino Unido mantêm suas taxas de juros em 0% e 0,25% ao ano, o Brasil, ao aumentar a Selic, torna-se um lugar atraente para dinheiro estrangeiro. Com mais entrada de dólar, o preço da moeda (e dos produtos que dependem de importação) tende a cair.

Além disso, a falta de crédito leva à redução do consumo (que costuma baixar os preços, ao derrubar a demanda).

Não à toa, a mudança da tendência incomodou o setor produtivo. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) acusou o Banco Central de agir de forma precipitada, de forma que “dificulta o cenário para a atividade econômica”.

Para os representantes da indústria, o ideal seria aprovar novo auxílio emergencial para a população mais vulnerável, permitindo o aumento do consumo, não restringindo-o.

Ainda que preço do dólar tenha respondido imediatamente ao anúncio da nova Selic, com uma leve queda, a mudança de tendência para uma política monetária focada na redução do consumo não agradou o mercado. O Ibovespa, principal indicador do mercado de ações, caiu quase 2%.

Para o investidor interessado no mercado de ações, a mudança na tendência da Selic traz uma discussão mais interessante do que o rendimento da poupança: quais ações da sua carteira dependem de estímulos ao consumo? E quais empresas se beneficiam com uma queda do dólar?

Em um momento de tanta volatilidade, descobrir os pontos fracos da sua carteira e blindar-se para não levar sustos com uma mudança da política (também monetária) parece o passo essencial para investir no Brasil.

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