Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos de Vasconcellos

Estamos entrando na mira das Spacs; é hora de você saber o que são

São empresas bilionárias que nada produzem, não têm funcionários, existem apenas para comprar outras companhias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Empresas bilionárias que nada produzem, sem nenhum funcionário, criadas unicamente para comprar outras companhias. Essas são as Spacs, que movimentaram US$ 92,6 bilhões (cerca de R$ 522 bilhões) em IPOs (ofertas iniciais de ação em bolsa) nos Estados Unidos, só neste ano.

Sigla para Special Purpose Acquisition Company (empresa com propósito específico de aquisição, em tradução livre), as Spacs estão em ascensão no mundo e, agora, começam a olhar para o Brasil.

É um salto impressionante. Em menos de três meses, o valor movimentado com IPOs deste tipo de empresa nos EUA já foi maior do que em todo o ano de 2020 (US$ 82,6 bilhões) e mais de seis vezes do que em 2019 (US$ 13,6 bilhões)

Na Europa, o aumento foi sentido também. Em 2021, os IPOs de Spacs já movimentaram US$ 768,3 milhões, enquanto durante todo o ano passado foram US$ 539,9 milhões, como mostram os dados levantados pela Dealogic para esta coluna.

Veja só: somando EUA e Europa, em dois anos, os IPOs destas empresas, também chamadas de “cheque em branco”, já movimentou o equivalente a metade do PIB da Dinamarca.

O cheque em branco se dá porque quem entra no IPO de uma Spac está unicamente dando seu dinheiro para o gestor da empresa seguir seu plano de comprar outra, geralmente, em até dois anos.

A imensa maioria das Spacs a fazer IPO está nos Estados Unidos, mas há empresas de países como Reino Unido, China, Hong Kong, Singapura e México abrindo seu capital na Bolsa de Nova York, na Nasdaq, em Paris, Londres e Amsterdam.

Agora, o escritório brasileiro Patria Investimentos, que faz investimentos privados, criou uma Spac e entrou com um pedido de IPO na Nasdaq, pelo qual pretende levantar US$ 250 milhões.

O Patria não especifica quais empresas quer comprar com a Spac, sediada nas Ilhas Cayman, mas diz que serão na América Latina.

No mês passado, a Itiquira Acquisition, levantou US$ 230 milhões na Nasdaq. A empresa é comandada pelo carioca Paulo Gouvea, ex-XP e ex-sócio de Eike Batista na EBX. Em seu prospecto, diz buscar negócios no Brasil para compra.

O mesmo foco foi anunciado pela HPX Corp, Spac que levantou US$ 253 milhões no ano passado, na Nyse. Seu CEO é atual presidente do conselho de administração da Equatorial Energia, Carlos Piani.

Ao todo, diz a consultoria Spac Research, seis Spacs, que levantaram US$ 1,28 bilhão, estão buscando empresas para comprar na América Latina neste momento.

É um mercado que vai movimentar muito ainda a vida do investidor brasileiro. Tanto por poder investir em Spacs lá fora quanto por ver a atividade delas aqui influenciando seus investimentos.

Mas é preciso ficar atento, pois os riscos de investir em uma Spac são consideravelmente maiores do que entrar em um IPO tradicional.

Por não haver operação nessas empresas, seu IPO costuma ser mais rápido e menos burocrático. Com isso, as Spacs podem ser usadas como uma forma de abrir o capital de uma empresa sem que ela precise passar por todas as exigências do mercado formal. Em resumo: faz-se o IPO da Spac e a usa para comprar uma empresa que não atenderia a todos os requisitos do mercado para abrir capital na Bolsa.

Quem quiser entender os riscos de como o mau uso dessas ferramentas leva a empresas que não atendem aos requisitos do mercado pode assistir ao documentário “The China Hustle”, que está no Netflix até dia 30 de março.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.