Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

Recorde do Ibovespa traz dilema do extrativismo

Em pleno 2021, nosso mercado está eufórico com a alta do petróleo e do minério de ferro

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O ano está positivo para quem aposta nas commodities. O que analistas chamam de superciclo tem trazido valorização expressiva para itens como minério de ferro, petróleo, soja e carne. A demanda internacional, principalmente chinesa, elevou os preços a patamares históricos.

Como você aprendeu na escola, o Brasil é um grande exportador de commodities. Com o dólar acima de R$ 5, os preços estão ainda mais atraentes para os compradores estrangeiros.

O impacto disso na Bolsa de Valores é claro. Nesta semana vimos o Ibovespa, principal indicador do nosso mercado de ações, chegar à pontuação recorde, passando dos 129 mil pontos.

Pessoas passam pela frente da sede da B3, em São Paulo - Amanda Perobelli - 9.mar.2021/Reuters

É preciso lembrar sempre que o índice é uma espécie de carteira de ações que são tidas como representativas do mercado. As ações da Vale (VALE3), gigante da mineração, representam 12% do Ibovespa. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) têm uma fatia de 9,8%.

Já são mais de 20% do Ibovespa carregados por commodities, sem contar outras exportadoras desse tipo de produto, como JBS, Gerdau e Usiminas, que também compõem o índice.

Em pleno 2021, nosso mercado está eufórico com a alta do petróleo e do minério de ferro. No começo do ano, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e determinou a troca dos carros e caminhões da frota do governo federal por veículos elétricos.

O apego às fórmulas tradicionais na geração de energia, aliás, tem trazido graves problemas ao cidadão brasileiro. Com a queda na produção pelas hidrelétricas, o acionamento de usinas térmicas eleva a conta de luz. A bandeira tarifária em junho será vermelha patamar 2. Sem contar a questão ambiental.

Nesta quinta (3), após ser decretada a escassez hídrica da represa de Furnas, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), classificou a represa como um "um desastre ambiental e econômico". O político pedia ajuda do governo federal para reduzir o impacto da crise em seu estado, mas é importante notar como sua fala expõe tanto o sucateamento como a dependência de uma usina cuja construção começou em 1958.

De lá para cá, Neil Armstrong pisou na Lua e você provavelmente carrega no bolso um smartphone com um processador muito mais potente do que o computador que estava a bordo da Apollo 11. Mas seguimos como o país das commodities e hidrelétricas —termoelétricas em caso de emergência.

Crises e acomodação do mercado também trazem oportunidades para quem busca caminhos diferentes. Uma empresa criada em 1961 foi apontada nesta semana por analistas do banco BTG Pactual como uma boa aposta em meio à emergência hídrica, justamente por investir em energia solar e eólica.

Trata-se da Weg, fabricante de equipamentos elétricos sediada em Santa Catarina. “A necessidade de agregar capacidade adicional de energia ao sistema nacional é iminente, com a contratação de fontes alternativas, como eólica e solar, por meio de uma nova rodada de leilões. Dentro de nossa cobertura, a perspectiva apoia Aeris (exposta à energia eólica) e Weg (exposta à energia solar, eólica e outros tipos de energia)", diz o relatório.

De acordo com a XP, o preço-alvo dos papéis da Weg (WEGE3) é R$ 68,90; para o BTG, as ações podem chegar a R$ 45; para a Guide, chegam a R$ 48. Hoje, os papéis são negociados por R$ 33.

O custo de apostar em inovação, no entanto, é alto. E as incertezas são muitas.

Em documento divulgado ao mercado, a empresa aponta entre os principais risco ao seu negócio a dependência de investimentos pelo setor privado e pelo setor público. “A diminuição dos investimentos realizados no país e a inexistência de crédito de longo prazo poderão afetar adversamente a economia nacional e prejudicar nosso resultado operacional e condição financeira.”

O documento, que desfia também insegurança em relação à inflação, instabilidade cambial e política fiscal como possíveis empecilhos a seu crescimento.

Ainda que com as diversas incertezas, é interessante ver como bancos e corretoras enxergam a possibilidade de inovação e preocupação ambiental trazerem bons resultados financeiros.

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