Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu ameaça autoritária

Brasil afunda e bolsas estrangeiras decolam: onde há oportunidades?

É essencial ter uma carteira de investimentos balanceada e protegida contra intempéries locais

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Para quem achava que o “risco Brasil” era coisa do passado, a queda de 10% no Ibovespa, principal indicador do nosso mercado de ações, nos últimos 90 dias deve ser um balde de água gelada. Antes que usem a pandemia como justificativa: o S&P 500, que reúne as principais ações nos EUA, subiu mais de 7% no mesmo período.

E não dá para dizer que a pandemia lá está superada. Os norte-americanos completamente vacinados contra a Covid-19 chegam a 53% da população. Em relação aos que tomaram pelo menos uma dose, são 62%.

Eis o resumo do pesadelo nacional: A inflação corrói o poder de compra dos consumidores; há uma crise hídrica e energética que traz aumentos na conta do setor produtivo e chances de racionamento; o presidente da República faz campanha a céu aberto e ameaça não entregar o cargo caso seja derrotado nas próximas eleições; e uma reforma tributária aos pedaços acerta em cheio a distribuição de dividendos, sinalizando a má vontade do Poder Público para com o empreendedorismo. Os dividendos, vale explicar, são a forma das empresas de, ao dar lucro, premiar aqueles que toparam correr o risco de investir nelas.

O Ibovespa tradicionalmente tem mais volatilidade que o S&P 500. Ou seja: nossas valorizações são mais fortes, nossas quedas, mais bruscas. No entanto, os índices costumam seguir as mesmas tendências. Por isso se diz que o mercado lá fora “puxou” a Bolsa.

Bolsa de Valores de São Paulo - Rahel Patrasso - 22.fev.2021/Xinhua

Só que não é isso o que acontece desde junho deste ano. Os índices trocaram de sinal. Enquanto o Ibovespa foi do seu recorde de 130 mil pontos para parcos 116 mil, abaixo do que registrava antes do início da pandemia de Covid-19. Já o S&P ultrapassou de maneira definitiva sua pontuação pré-pandemia em novembro do ano passado.

Para entender onde podem estar os problemas e as oportunidades, vale comparar o desempenho dos diferentes setores. Um ponto importante a ressaltar é a baixa presença de empresas de tecnologia na nossa Bolsa. Elas têm chegado agora, na mais recente onda de IPOs, mas ainda são pouco representativas.

Nas bolsas americanas, o setor de tecnologia deslanchou na crise, consolidando a liderança dos players que conseguiram facilitar a vida de cidadãos do mundo inteiro a reinventar as próprias rotinas e seus negócios durante o isolamento.

Creditar a diferença entre os mercados de ações unicamente à desenvoltura das empresas de tecnologia, no entanto, seria ignorar o real problema que assola o mercado nacional: a enchente de incertezas.

Além da drástica redução no poder de compra dos brasileiros, a perspectiva de aumento da taxa de juros afeta também as compras financiadas. De junho a agosto, o XRT, ETF (fundo negociado em Bolsa) que reúne as maiores companhias do setor de varejo americano, teve um ganho de 3,30%. O Icon, índice brasileiro que aponta o desempenho do setor de consumo, despencou 7,48%.

A crise hídrica pesou em cima do IEE, o nosso indicador do setor elétrico, que encerra o mesmo período com uma queda de 2,50%. Já o ETF que reúne ações dos setores elétrico, de água e saneamento americanos (de sigla XLU) teve uma alta de 6,62%.

Fazer essas comparações tem serventia bem maior do que apenas lamentar a situação. É importante para mostrar como é essencial ter uma carteira de investimentos balanceada e protegida contra intempéries locais.

Isso não significa deixar todo seu dinheiro lá fora. Mas não ser refém de um só mercado. Hoje, há mais de 100 ETFs, de 24 países, negociados na nossa Bolsa de Valores. São ativos que acompanham a variação de ações, títulos de renda fixa, ouro e outros metais e até mesmo criptomoedas. São um bom começo para quem quer diminuir sua exposição ao “risco Brasil”.

Mas não esqueça de se manter atento às opções do nosso mercado. Mesmo com as ameaças de interferência de Jair Bolsonaro ao preço dos combustíveis, as ações da Petrobras (PETR4), por aqui, subiram mais que o ETF com as maiores produtoras de óleo e gás dos EUA (XLE), nos últimos três meses.

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