Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos

No país da fila do osso, frigorífico é bom negócio

Alta do dólar piora fome no Brasil e também aumenta exportação de companhias

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As imagens de pessoas revirando pilhas de carcaças em busca de alimento e dos supermercados vendendo ossos em bandejas ganharam, não sem razão, destaques nos jornais brasileiros e internacionais. É nesse mesmo Brasil que os frigoríficos têm dados resultados impressionantes na Bolsa de Valores.

Enquanto o Ibovespa, principal indicador do mercado de ações nacional, acumula uma queda de 12,2% no ano, as ações da Marfrig (MRFG3) mais do que dobraram de preço, subindo 103%. As da JBS (JBSS3) não ficam muito atrás, com alta de 70%, e os papéis da Minerva (BEEF3) subiram um pouco menos de 15% no mesmo período.

Antes que alguém repita aquela máxima segundo a qual "enquanto uns choram, outros vendem lenços", é importante deixar claro que isso não é resultado de novas linhas de receita com a venda de ossos ou carcaças. Acontece que um mesmo fator que acelera a inflação e tira a comida do prato dos brasileiros aumenta as exportações das companhias: a alta do dólar.

Frigorífico da Marfrig em Promissão (SP) - Paulo Whitaker - 11.mai.2021/Reuters

Com o real a preço de banana (um oferecimento do governo que parece se esforçar para gerar um ambiente de negócios inseguro, com manobras para furar o teto de gastos e ameaças à autonomia de estatais), os exportadores, que recebem em dólar, ficam com as contas bonitas e agradam o mercado.
Segundo resultados divulgados nesta quinta-feira (4/11), a Minerva bateu recorde de receita no último trimestre, atingindo o patamar de R$ 78,4 bilhões. E 69% da receita consolidada teve origem nas exportações.

Ao revelar seus números, aliás, a empresa anunciou o pagamento de mais R$ 200 milhões em dividendos para seus acionistas, o que é cerca de 45% do lucro acumulado entre janeiro e setembro. Isso vai dar 35 centavos para cada ação.

A explicação para o bom resultado (43% acima do mesmo período em 2020) é dada pelo seu diretor presidente, Fernando Galletti de Queiroz: "Isso é um reflexo da diversificação geográfica da Minerva Foods, que nos permite arbitrar com agilidade os mercados, reduzindo os riscos, a volatilidade e ampliando a eficiência operacional e financeira". Em outras palavras: o bom resultado se deve a estar fora do Brasil.

Nos resultados mais recentes da Marfrig, divulgados no último dia 27, a lógica é a mesma. O crescimento das vendas na América do Norte se explica pela reabertura da economia, avanço da vacinação contra Covid-19 e estímulos financeiros do governo federal.

Já no Brasil, lembra o presidente do conselho de administração da empresa, Marcos Antonio Molina dos Santos, a demanda por proteína bovina é a menor em quase 30 anos, de acordo com o próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Vale notar que a Marfrig antecipou também o pagamento de mais de R$ 958 milhões de dividendos a seus acionistas.

Na JBS, a expectativa é de números superlativos, novamente. Os resultados serão divulgados no próximo dia 10 e a forte presença da empresa no exterior, inclusive com recentes aquisições de companhias já bem estabelecidas em mercados com Austrália, Reino Unido e Alemanha, reflete fortemente na valorização de suas ações.

Os três frigoríficos deixam claro como é possível, ainda que com ações de empresas nacionais e na Bolsa brasileira, reduzir a exposição de uma carteira de investimentos ao chamado risco Brasil e suas mazelas, que ficam tão claras nas tristes filas do osso.

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