Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu petrobras inflação

Aumento do diesel obriga investidor a comprar abacaxis e pneus de bicicleta

Carteira com ativos descorrelacionados só precisa de calibragem, sem grandes mudanças

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A ida ao supermercado está dolorosa. O trigo, que em grande parte vem do Leste Europeu, já tira o pãozinho da mesa dos brasileiros. Agora, a nova alta dos combustíveis atinge com força o varejo.

Toda a cadeia logística sai ferida. Dependentes do transporte rodoviário, somos brindados até com novas incertezas sobre mobilizações de caminhoneiros, para quem o aumento de 25% no preço do diesel tem impacto profundo. O economista André Braz, da FGV (Fundação Getulio Vargas), já aponta a possibilidade de termos uma inflação de 7,5% neste ano.

Na segunda-feira (7), três dias antes de a Petrobras divulgar os aumentos, as instituições financeiras previam o IPCA (principal medida da inflação) em 5,65% no fim de 2022 —de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central. Mesmo que chegue à marca prevista por Braz, ainda ficaremos 2,5 pontos percentuais abaixo da inflação de dois dígitos que atingimos no ano passado.

Caminhões em posto de parada na Via Anhanguera sentido São Paulo na região de Campinas - Jardiel Carvalho - 01.nov.2021/Folhapress

A perspectiva de alta nos combustíveis e aumento da inflação atinge em cheio diferentes setores, como o varejo e a aviação. A Via (ex-Via Varejo) —viu seu papel (VIIA3) cair quase 7% das 10h às 12h30 da quinta (11)—, a Gol (GOLL4) registrou queda de mais de 4% em menos de meia hora.

Mas quem se afasta um pouco para olhar o cenário vê a alta da Petrobras com a sinalização de que o governo não vai interferir nos preços (ao menos até segunda ordem) e, numa visão ainda mais panorâmica, encontra oportunidades como em fundos imobiliários (FIIs), mais especificamente nos chamados "fundos de papel".

Esses são fundos que aplicam em títulos de dívida do setor imobiliário. Basicamente, juntam dinheiro de investidores para comprar, por exemplo, CRIs e LCIs de diferentes empresas. E pagam de volta aos seus cotistas o valor acrescido dos juros e correção.

E aí está o ponto: muitos desses contratos têm seus rendimentos atrelados ao IPCA. A inflação passar de 10% em 2021, então, deu a sensação a esses cotistas de fundos imobiliários de estar recebendo um bom dinheiro pelos seus investimentos (apesar de grande parte ser simplesmente correção monetária).

Com a perspectiva de inflação mais baixa neste ano, esses investidores começam a sentir uma diminuição nos dividendos pagos (explicação completa no vídeo abaixo). Já para quem está procurando boas alternativas, ao ver o despencar do mercado com o novo aumento da inflação, o aceno dos FIIs de papel parece tentador.

E por que você deveria olhar ao mesmo tempo ações do varejo e os tais fundos? A resposta é justamente a descorrelação entre esses dois ativos, que é a palavra mágica para sobreviver aos momentos de crise (e a nossa tem sido longa).

Explicando de um jeito mais simples: abacaxis e bananas são obviamente coisas diferentes (principalmente na hora de descascar), mas, no fim das contas, dependem de terra, água e fertilizantes (russos ou não). Ações da Petrobras e de empresas do varejo, por exemplo, seriam frutas diferentes, mas, no fim do dia, sua movimentação depende diretamente de variáveis muito semelhantes.

Nessa analogia, os fundos imobiliários de papel seriam um pneu de bicicleta. Claro que, no fim do dia, tudo gira em torno da economia, do poder de compra, do fluxo de capital etc. Mas os fatores que impactam diretamente o mercado de créditos imobiliários são outros. E, com a gasolina cara, é provável que mais gente opte pelas bikes, quem sabe

"Então devo abandonar as frutas e viver de pneus?" Muito pelo contrário. Quem consegue montar uma carteira de investimentos com ativos verdadeiramente descorrelacionados precisa apenas calibrar aqui e ali de tempos em tempos, sem a necessidade de grandes mudanças, ainda que em crises.

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