Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu Selic

Arapucas de fundos atrapalham quem quer surfar na renda fixa

É preciso ficar alerta para não pagar mais por aplicações que vão dar menos dinheiro

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A renda fixa voltou com tudo. A esta altura do campeonato, ninguém pode ter mais dúvidas. Emitindo títulos de crédito privado com taxas interessantes, empresas como JBS, Vale e até mesmo as lojas Havan confirmaram essa onda e estão chegando ao bolso de investidores.

O movimento parece longe do fim. O Banco Central estima que a taxa básica de juros (Selic) vá sair de 11,75% e atingir seu ponto máximo em 12,75% antes de voltar a baixar. Já a equipe do Credit Suisse acredita que o BC tenha calculado errado o impacto da inflação e já aposta em uma Selic de 14%. O Brasil está renovando sua infeliz vocação de "exportar Selic", ou seja: trazer dinheiro de fora simplesmente para a compra de títulos do governo, que, com altas taxas de juros, passa a disputar o dinheiro com o setor privado.

Com o aumento das ofertas de títulos de renda fixa públicos e privados com boas taxas, fica a dúvida (sempre melhor a dúvida do que a dívida): como escolher seus investimentos em renda fixa

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Cédulas de real - Gabriel Cabral - 21.fev.2019/Folhapress

Convenhamos que a lista de estratégias para escolher as melhores ações é vasta. Análise gráfica, análise fundamentalista, análise quant... Mas, na hora de escolher ativos de renda fixa, a banda toca diferente.

A primeira coisa ao se deparar com uma oferta é olhar com atenção o setor da empresa e sua exposição a possíveis mudanças do mercado. Há aqueles menos impactados por crises (como infraestrutura e energia) e os mais expostos (varejo e aviação).

O segundo ponto a ser observado é o motivo que levou a empresa a buscar dinheiro no mercado. Está buscando ampliar a operação ou vai fazer uma nova dívida para cobrir um buraco nas contas?

Depois disso, é tempo de olhar o caixa, o nível do endividamento e o lucro. Sempre comparando com outras concorrentes do mesmo setor (não dá para cotejar os números de uma rede de supermercado com os de uma petroleira).

No geral, são informações que precisam constar dos materiais publicitários que as empresas divulgam na hora de ir a mercado buscar dinheiro de investidores.

Tem ainda os riscos que costumam ficar pouco explícitos nesses materiais de divulgação das ofertas. Levando em conta as três empresas já citadas no início do texto, dá para apontar como fatores de risco de outrora o envolvimento da Vale nas tragédias de Brumadinho e Mariana; as famosíssimas gravações de conversas de um dos donos da JBS, Joesley Batista, com o então presidente da República, Michel Temer; e o ativo envolvimento do dono da Havan, Luciano Hang, com a campanha do atual presidente Jair Bolsonaro.

O peso que se atribui a cada informação na tomada de decisão sobre comprar ou não comprar um ativo é que dá trabalho. Para isso, escritórios de investimento possuem as equipes das chamadas "mesas de renda fixa", que orientam os assessores e tiram dúvidas dos investidores, e os fundos de renda fixa, por sua vez, têm a figura dos gestores.

Os gestores de fundos são profissionais remunerados para saber a hora de vender e comprar sem consultar os investidores sobre eles aceitarem essa ou aquela mudança. É carta branca, mesmo.

E a remuneração deles é feita por duas taxas: a de administração (fixa) e a de performance (variável). Agora vem a surpresa: os fundos de renda fixa e de previdência que cobram as maiores taxas de administração costumam dar o pior resultado ao longo do tempo.

Não, você não leu errado: Na maior parte das vezes, paga-se mais para ter pior retorno. Essa foi a conclusão de um estudo feito pela fintech Onze, divulgado pelo site Monitor do Mercado.

O levantamento considerou todos os fundos de investimento de renda fixa e previdenciários com mais de cinco anos de histórico e dividiu-os em quatro grupos, de acordo com a taxa de administração cobrada: até 0,61%; entre 0,61% e 0,96%; entre 0,96% e 1,5%; e acima de 1,5%.

Pois a conclusão é que, olhando as janelas temporais de 24, 36, 48 e 60 meses, a rentabilidade média dos fundos com taxa de administração mais baixa foi melhor do que a dos que mais cobraram de seus investidores.

Considerando o maior prazo da análise, de cinco anos, a média dos retornos dos fundos do primeiro grupo foi 61% superior à dos fundos do último.

Olhando no detalhe, há até fundos da mesma instituição, que compram os mesmos títulos, mas são oferecidos para diferentes clientes, com taxas de administração diferentes.

O momento é ótimo para escolher bons investimentos de renda fixa. Mas é preciso ficar alerta, para isso não servir apenas de discurso do gerente do banco para te fazer pagar mais por investimentos que vão te dar menos dinheiro.

Quer conversar sobre investimentos? Meu e-mail é marcos@monitordomercado.com.br

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