Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu Santander

Desembarque precoce da GetNet da Bolsa gera desconfiança indesejada

Falta de previsibilidade é a principal inimiga do investidor

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Um movimento no mercado financeiro acende uma luz amarela para quem aposta nas empresas que chegaram recentemente à Bolsa, na chamada "janela de IPOs" de 2021.

Sete meses depois de abrir seu capital, a GetNet, de maquininhas de cartão de crédito, decidiu que vai sair da Bolsa. E vai pagar, por ação, o mesmo que recebeu no IPO: R$ 2,36.

Em uma campanha desastrosa, os papéis derreteram desde o seu segundo dia de pregão. No primeiro, chegaram a ser negociados por R$ 11,70. Depois disso, foi ladeira abaixo, chegando até mesmo à casa de R$ 1,50.

Incertezas sobre cenário macroeconômico e político pode influenciar decisão de companhias em abrir capital
Incertezas sobre cenário macroeconômico e político pode influenciar decisão de companhias em abrir capital - Michael Nagle - 19.mar.2020/Xinhua

Multiplicando o número de ações que entraram em circulação (o chamado free float) e o preço do IPO, chegamos à cifra de R$ 444 milhões direto para o caixa, em tese.

Numa conta simples (e hipotética), se a GetNet simplesmente pegasse esse dinheiro no dia do IPO e comprasse títulos do Tesouro Direto, agora, sete meses depois, teria um rendimento de cerca de R$ 20 milhões, já descontando o Imposto de Renda.

Ao anunciar que vai pagar o mesmo preço do IPO, a empresa desconsidera o custo de oportunidade do investidor que acreditou em seu projeto de crescer e se tornar "um balcão único no setor de pagamentos brasileiro".

Uma vez que o dinheiro não é infinito (ao menos no meu caso), quem topou comprar ações da GetNet deixou de comprar outros papéis, como de sua concorrente direta, a Cielo, cujas ações CIEL3 subiram cerca de 30%, ou da Petrobras (PETR4), que subiram 17% no mesmo período.

Isso sem contar a perda do valor do dinheiro nesse período, com a nossa galopante inflação. Se fosse corrigido pelo IPCA desde outubro de 2021, quando foi feito o IPO, o valor de uma ação GETT3 atingiria hoje R$ 2,53, acima dos prometidos R$ 2,36.

Isso ainda é um anúncio, tem muita tramitação legal para acontecer, mas acaba por preocupar o investidor que resolveu apostar na última leva de empresas que embarcaram na Bolsa de Valores, pensando na valorização a longo prazo.

Os tempos têm sido difíceis para a economia, e diversas das novatas no mercado têm visto seus papéis afundar desde o IPO, em 2021, como GetNinjas (-80%), Traders Club (- 59%) e Desktop (-53%). A saída da GetNet gera insegurança para o investidor que decidiu apostar no longo prazo e conseguiu ficar calmo na derrocada das novas ações.

Os movimentos de oferta pública de aquisição de ações (OPA) para cancelamento de registro na Bolsa acontecem com alguma frequência, mas, pela falta de "glamour", costumam ser menos alardeados no noticiário do que os IPOs. A leva mais significativa recente foi em 2019, quando Multiplus, Hering, Somos Educação, Tec Toy e Tarpon saíram da B3.

Ainda que seja parte do jogo, é preciso que esse risco esteja claro para o investidor. Em documento enviado à CVM e auditado pela PwC (PricewaterhouseCoopers), a GetNet listou diversos fatores de risco ao preço das ações, mas a possibilidade de um precoce cancelamento de sua listagem não está entre eles.

Pelo contrário: um dos pontos citados é justamente o risco de ela emitir novos papéis e, com isso, diluir o preço das suas ações. "Podemos, de tempos em tempos, precisar de recursos adicionais para implementar nossa estratégia de crescimento, adquirir companhias-alvo ou de qualquer outra forma conduzir nossas atividades e podemos emitir Units ou ADSs (papéis emitidos nos EUA) adicionais", diz o documento.

A falta de previsibilidade é a principal inimiga do investidor. Não à toa, os maiores fundos do mundo estão com dinheiro em caixa em níveis que não se viam desde os atentados de 11 de setembro de 2001, esperando caminhos claros.

Quando nem empresas tratam a Bolsa como algo de longo prazo, é sinal que as perspectivas ficaram mesmo embaralhadas.

O meu email é marcos@monitordomercado.com.br.

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