Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Bravatas desinformadas costumam dar errado

Bancos são alvo de críticas na campanha eleitoral deste ano

Os bancos se tornaram o alvo predileto das críticas nesta campanha eleitoral. Seus elevados lucros seriam o resultado das altas taxas de juros decorrentes de escassa concorrência.

O problema, porém, é mais sutil do que prometem as palavras de ordem e as suas saídas fáceis, que correm o risco de entregar apenas novos problemas.

Em primeiro lugar, os bancos no Brasil fazem diversas atividades não usuais em outros países, como vender seguros e previdência. Parte relevante do lucro do Bradesco, por exemplo, decorre dessas atividades.

Em segundo, os principais bancos brasileiros realizam operações de mercado de capitais e de crédito para as grandes empresas, que têm acesso aos muitos bancos de atacado nacionais e estrangeiros. Aqui não há falta de concorrência.

Em terceiro, os bancos também oferecem outros serviços, como a gestão de ativos dos grupos de maior renda, em que existem muitos gestores independentes.

A parcela dos conglomerados bancários destinada a típicas operações de varejo, receber depósitos de seus clientes e utilizá-los para emprestar às famílias e às pequenas e médias empresas, é relativamente pequena.

Regulação obriga bancos a reter um montante elevado de capital
Regulação obriga bancos a reter um montante elevado de capital - Fernando Frazão - 24.jul.12/Folhapress

Foi exatamente nas atividades de varejo que aumentou a concentração bancária. A análise dos balanços dos principais bancos, porém, indica que apenas entre 15% e 30% dos seus lucros decorrem dessas atividades, remuneradas por tarifas ou por taxas de juros. Curiosamente, os spreads eram ainda maiores na década passada, quando havia mais bancos.

Para complicar, a regulação obriga que os bancos retenham um montante elevado de capital, que fica apartado para cobrir perdas inesperadas de crédito (uma espécie de seguro obrigatório). Esse capital custa cerca de 14% ao ano, bem acima da taxa básica de juros.

Há outras distorções, como a elevada tributação sobre a concessão de crédito que aumenta as taxas de juros, como ocorre com a tributação indireta de qualquer bem ou serviço.

Alguns propõem maior tributação para os bancos com juros mais altos. Esquecem que grupos como pequenas empresas apresentam maior inadimplência e, por essa razão, pagam maiores juros.

A proposta criativa pode levar à redução do crédito para esses grupos, o que diminuiria a taxa média de juros e, portanto, o imposto devido.

Certamente existe muito o que pode ser feito, como na regulação do setor de cartão de crédito. No começo dos anos 2000, algumas reformas expandiram o crédito em meio a queda das taxas de juros.

Bravatas desinformadas, porém, podem apenas repetir o fracasso das intervenções que prometiam baixar o preço da energia e fortalecer a Petrobras. Deu no que deu.
 

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