Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa
Descrição de chapéu Eleições 2018

O fetiche com os economistas

Escolha do ministro da Fazenda deveria ter a mesma relevância das demais nomeações técnicas

A temperatura anda elevada nesta campanha eleitoral. Em tempos perturbadores, a paixão por derrotar quem se considera o inimigo parece ser mais importante do que saber se o candidato a presidente representa adequadamente o eleitor.

A desmedida polarização política é temperada pela inusitada ansiedade acerca de quem são os economistas de cada candidato.

Não deveria surpreender. Afinal, há um candidato que votou consistentemente a favor de corporações públicas na sua longa carreira política e agora indica que um posto de gasolina é garantia de percurso tranquilo. A má notícia é que combustível pode explodir.

Por outro lado, há um partido que aposta em propostas que resgatam muitas políticas intervencionistas adotadas na última década. O fracasso do governo Dilma, coroado pelo estelionato meia sola em 2014, parece ter sido de pouca serventia.

Busca-se no enfermeiro o conforto que não se percebe no cirurgião. A escolha do ministro da Fazenda deveria ter a mesma relevância das demais nomeações técnicas, como as de quem irá liderar as agências reguladoras dos setores de energia ou de saúde.

Nossos desafios serão enfrentados por aqueles que serão eleitos no próximo mês. A política é a arena do enfrentamento das nossas divergências e de onde se esperam soluções negociadas. Cabe aos técnicos apenas informar se as soluções propostas são viáveis e a melhor forma de implementá-las.

Uma sociedade que dedica tanta atenção aos possíveis nomes para conduzir a tediosa função de ministro da Fazenda revela que o processo eleitoral parece estar desorientado. Algo como despender a maior parte do tempo debatendo a escolha do calculista da obra em vez de discutir o projeto do arquiteto para a casa em que iremos morar por muitos anos.

Economistas são como os assessores dos proprietários de velhos casarões. Nosso papel é o de servir o chá e lembrar que chegaram contas a pagar.

Há uma propriedade a ser administrada. São muitas as famílias que produzem nas terras em meio a conflitos sobre os bens de uso comum e as prioridades da gestão local. Há idosos que demandam atenção, assim como há crianças que precisam de melhores escolas. 

Temos regras previdenciárias insustentáveis em meio a políticas públicas que gastam demais para serviço de menos.

Muitos, com razão, temem que a polarização extremada ponha em risco a tolerância requerida para a convivência democrática e a resolução dos nossos desafios.

Se o assessor aqui puder palpitar, é melhor sabatinar aqueles que podem ser escolhidos para negociar nossos conflitos do que gastar tempo demasiado especulando sobre quem irá podar as árvores.

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