Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa
Descrição de chapéu Eleições 2018

O mercado e a agenda econômica

De um lado, aparentemente há desconhecimento, do outro, propostas vagas e ambíguas

Alguns políticos imaginam que existe uma organização, o “mercado”, com quem se negocia, como num conflito sindical.

Nada disso. Investidores, incluindo fundos de previdência e poupadores, diariamente tomam decisões sobre o que vender e o que comprar para administrar os seus recursos.

Muitos fatores afetam essas decisões, incluindo as expectativas sobre a economia.

Quanto maior for a confiança de que o país vai crescer nos próximos anos, mais se investe por aqui, apoiando empresas ou emprestando para o governo. O resultado é o aumento do preço médio das ações, a queda da taxa de juros e a valorização do câmbio. O inverso ocorre quando pioram as perspectivas para a economia.

Esses preços, portanto, refletem as expectativas sobre o desempenho da economia.

Lideranças do PT, no entanto, atribuem as oscilações de mercado à reação de uma entidade organizada, o “mercado”; algo como acreditar que o termômetro marca 38 graus para chantagear o paciente.

O resultado dessa tese equivocada foi a desastrosa política econômica iniciada em 2008, quando o governo passou a oferecer benefícios ao setor privado na esperança de estimular o investimento.

Pelo visto, o PT não conhece a diferença entre as políticas pró-mercado e as pró-negócios. No primeiro caso, premia-se a produtividade. No segundo, protege-se a ineficiência.

As políticas pró-mercado não implicam qualquer negociação e têm por objetivo estimular a concorrência e os ganhos de produtividade. Um ambiente de negócios com regras claras e segurança jurídica estimula o investimento e a produção. Nesse caso, são bem-sucedidas as empresas com menores custos de produção ou as que melhor atendam a seus clientes.

As políticas pró-negócios, ao contrário, negociam benefícios e proteções contra a concorrência para setores selecionados. O resultado, em geral, são empresas menos eficientes e preços mais altos em um país mais pobre.

Como a vida não anda fácil, o outro candidato apresenta uma agenda econômica vaga e repleta de ambiguidades. Apesar de se dizer liberal, ele rejeita privatizar algumas estatais e tem um longo histórico de defesa de interesses corporativos, da mesma forma que boa parte dos congressistas eleitos pelo seu partido. O presidenciável e os deputados que lhe são próximos se aliaram ao PT para rejeitar a reforma da Previdência.

Não deveria surpreender esse voto conjunto. Afinal, há muita semelhança entre a política econômica do governo Dilma e a do governo Geisel.

Os investidores com frequência erram. Caso descubram que torceram como adolescentes precipitados, reconhecem as perdas e mudam de endereço.

Como, porém, vão reagir os cidadãos caso ocorra um novo estelionato eleitoral?
 

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