Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Chicago e a política pública

Pena que outra revolução causada pela universidade não tenha tido tanto destaque

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A Universidade de Chicago ficou famosa no Brasil pelas políticas liberais defendidas por alguns de seus professores. Pena que não tenha tido tanto destaque a revolução que provocou na análise econômica e na relevância da política pública para o desenvolvimento.

A economia estuda dilemas e tenta estimar os custos e os benefícios das diversas opções. Essa definição inclui temas tão díspares como a escolha do restaurante, o consumo de drogas, a leniência com a inflação ou o que fazer em caso de poluição.

Há 80 anos, Chicago contava com economistas notáveis, como Jacob Viner, Henry Simons e Frank Knight, e seus alunos começaram a combinar os modelos teóricos com a pesquisa aplicada. A regra do jogo era submeter as conjecturas sobre economia ao escrutínio da melhor evidência disponível, descartando preconceitos e argumentos frágeis.

Os resultados foram impressionantes. Milton Friedman aperfeiçoou a análise estatística dos dados econômicos com seus trabalhos sobre consumo. George Stigler botou de ponta-cabeça a teoria da regulação e foi o primeiro a estudar com rigor a economia da informação.

O economista norte-americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1976
O economista norte-americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 1976 - Reprodução

Theodore Schultz observou que a educação poderia aumentar a produtividade e cunhou o termo capital humano. Jacob Mincer e Gary Becker documentaram a relevância da educação para a renda pessoal.

Becker utilizou as técnicas da economia aplicada para estudar a discriminação no mercado de trabalho, a ocorrência de crimes e a estrutura das famílias, incluindo o número de filhos. Robert Fogel adotou as mesmas técnicas para revolucionar a história econômica.

James Heckman aperfeiçoou a estatística para estimar os impactos da legislação trabalhista, da educação e do cuidado com a primeira infância sobre o emprego e a renda, alguns exemplos da sua imensa agenda de pesquisa.

Heckman tentou confirmar a tese dominante de que a diferença salarial entre brancos e negros decorria apenas de fatores objetivos, como educação. Afinal, maior produtividade gera mais resultados, qualquer que seja a cor da pele dos trabalhadores. Depois de muita pesquisa, rejeitou a tese e admitiu que a política de direitos civis foi relevante para reduzir a discriminação racial.

​Friedman, Schultz, Stigler, Fogel, Becker e Heckman receberam o Nobel de economia.

Há 50 anos, Carlos Langoni, cuja tese de doutorado foi orientada por Schultz em Chicago, mostrou que o gasto com ensino fundamental no Brasil era mais rentável do que qualquer outro investimento. Pouco depois, ele mostrou, com impressionante sofisticação técnica, que educação era o fator mais importante para explicar as diferenças individuais de renda.

Foi de pouca valia. Preferimos continuar a subsidiar concreto e máquinas em vez de educar as pessoas.

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