Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Balbúrdia

O que antes era discussão técnica nos gabinetes agora é debatido preliminarmente imprensa

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Um leitor de jornais pouco atento às redes sociais pode concluir que o governo faz o possível para ajudar a grande imprensa.

Antigamente, os técnicos debatiam detalhadamente as sugestões de política pública nos gabinetes. Posteriormente, as medidas e as suas implicações eram avaliadas e deliberadas pela liderança do governo.

Apenas com a casa arrumada, a proposta se tornava disponível para o debate público.

A imprensa, antes como agora, tentava saber das reuniões e eventuais divergências por meio de fontes anônimas. Vazamentos nos velhos tempos, porém, eram considerados faltas graves à ética pública, até por que a sua motivação em geral nada tem de republicana.

O novo governo resolveu inovar e organiza as suas discussões preliminares diretamente na grande imprensa. Autoridades propõem ideias vagas, sem embasamento técnico, iniciando um debate público entre secretários, ministros e, algumas vezes, o próprio presidente.

São muitos os exemplos: a privatização das principais estatais, a nova versão da CPMF, a reforma administrativa e o fim da estabilidade dos servidores, a regulação do setor de gás e a nova previdência para policiais militares.

O capítulo mais recente dessa novela foi sobre o monopólio da Caixa Econômica Federal (CEF) para administrar o FGTS.

O tema não é novo. Há muito se sabe que a CEF cobra uma taxa de administração bem acima do que seria cobrado pelos bancos privados.

Para piorar, os trabalhadores são adicionalmente penalizados com uma taxa de juros abaixo da que receberiam caso pudessem comprar diretamente títulos públicos com o seu FGTS.

Segundo a imprensa, técnicos do governo têm proposto alterar a legislação que protege o monopólio da CEF em detrimento dos trabalhadores.

Nem todos, no entanto, concordam com a agenda liberal. O presidente da CEF defende privilégio do banco com o mesmo argumento utilizado pelos Correios, não exatamente o melhor exemplo a ser seguido.
Até o presidente da República participa da controvérsia, mais uma vez apoiando as corporações públicas.

O governo auxilia a grande imprensa ao sugerir propostas vagas que preenchem as primeiras páginas dos jornais.

Melhor ainda quando elas são, em seguida, desmentidas por outra autoridade, o que permite novas manchetes.

Os rascunhos de medidas econômicas jogados ao vento entretêm jornalistas e 
colunistas. 

Como se não bastasse, os vazamentos tornaram-se corriqueiros em Brasília, alimentando a imprensa com intrigas oficiosas. 

O governo pode não ser verdadeiramente liberal, mas, não se pode negar, faz o possível para aumentar a vendagem dos jornais.

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