Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Sem vacina

A falta de plano para cuidar da saúde era previsível

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Não, não quero ser vacinado. Ainda não.

Ao contrário dos seguidores do presidente, a razão não é desconfiar da eficácia da vacina, ou acreditar que contrair a doença é a melhor prevenção. Muito pelo contrário.

Tenho respeito pela ciência e pelos protocolos da medicina que salvam tantas vidas. Fosse uma decisão solitária, não teria dúvidas de que seria vacinado de bom grado.

Meu problema é que a decisão não é solitária. Haverá poucas doses disponíveis nos próximos meses e outras pessoas precisam delas mais do que eu. Há os profissionais de saúde que têm que cuidar de doentes. Há os que cuidam da limpeza e da segurança nos espaços públicos. Todos eles deveriam ter prioridade na distribuição de vacinas.

Tudo bem que estou na meia-idade e que não cuidei muito da saúde. Mas o descuido é culpa exclusiva minha.

Sei que a vacinação em massa não será rápida aqui como em outros países. Assim é a vida. Votamos em candidatos destrambelhados e mesmo assim achamos que tudo ficaria bem? Não deveria surpreender a falta de plano estruturado para cuidar da saúde.

A maioria escolheu este governo e agora cabe aceitar as consequências. Alguns acreditaram que o ministro da Saúde, um general especializado em logística, deveria saber cuidar de logística. Deu no que deu. A incompetência dos militares tem desmoralizado a caserna.

Outros defenderam que a estabilidade dos servidores públicos, com remuneração bem maior do que os demais trabalhadores, garantiria que as políticas de Estado estivessem acima das idiossincrasias do presidente de plantão. Estavam errados.

Nos EUA, não há estabilidade para servidores como a que temos por aqui. Lá, porém, o Estado funciona, e a vacinação já começou, resultado de um minucioso planejamento iniciado em abril.

Muitos países compraram, meses atrás, vacinas de diversos produtores sem saber de antemão qual seria bem-sucedida. O cuidado com a saúde incluiu adquirir os insumos necessários, como seringas, organizar a logística e definir os critérios dos grupos prioritários a serem vacinados.
Nada disso foi feito adequadamente no Brasil. Estamos atrasados até em comparação com o México, cujo presidente também minimizou a gravidade da pandemia, mas que já começou a vacinar a população.

Esta crise revelou a incompetência e insensibilidade de diversas áreas do setor público, não apenas do Palácio do Planalto. Muitas crianças estão sem aula há quase um ano, o que pode ter consequências desastrosas para o seu aprendizado.

Nestes tristes tempos, ministros do Supremo e promotores públicos, trabalhando de casa, com emprego e salário garantidos, pedem para furar a fila da vacinação.

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