Marcos Mendes

Pesquisador associado do Insper, é organizador do livro 'Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil'

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Marcos Mendes
Descrição de chapéu Auxílio Brasil

2022 promete ser festival de populismo da direita à esquerda

Políticas desse tipo sempre fracassam e jogam o custo sobre os pobres

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Em artigo de 1990, "A Macroeconomia do Populismo", Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards alertaram para o fato de que "políticas populistas sempre falham e jogam o custo sobre os grupos que supostamente seriam favorecidos por elas" (tradução livre). Infelizmente, 2022 promete ser um festival de populismo da direita à esquerda.

Meses atrás, Bolsonaro rechaçou propostas de reformulação das políticas sociais que poderiam atender melhor os mais pobres, sem estourar as contas. Afirmou que "não vou tirar dos pobres para dar aos miseráveis".

Porém, fez pior ao propor a PEC dos Precatórios: a título de ampliar a transferência de renda aos pobres, abriu a porta a despesas que favorecem os ricos e furou o teto de gastos, o que gerou desvalorização cambial, inflação, aumento dos juros, redução dos investimentos e da oferta de empregos.

LULA X BOLSONARO
Montagem com o presidente Jair Bolsonaro (esq.) e o ex-presidente Lula - Anderson Riedel/PR e Bruno Santos/ Folhapress


Em uma típica manobra populista, anunciou o pagamento mínimo de R$ 400 para cada família abaixo da linha da pobreza. Isso garante o discurso de palanque: "Eu dei R$ 400 para cada família pobre!". Mas desmonta a estratégia de atender os mais necessitados: um indivíduo que vive sozinho vai receber o mesmo que uma mãe solo com duas crianças pequenas; uma família com renda um pouco acima da linha de pobreza não receberá nada, enquanto outra, um pouco abaixo, receberá R$ 400. O Auxílio Brasil custará mais que o dobro do Bolsa Família, com clara deterioração da relação custo-benefício.

O candidato Lula reforça a toada populista. Acha que R$ 400 é pouco. Tem que ser R$ 600! E apoia o desmonte do teto, bradando no Twitter que "um governo responsável não precisa de uma lei dizendo o que ele pode gastar". Arroubo autoritário que finge ignorar que o Poder Executivo não governa sozinho, e que as pressões desordenadas por gastos vêm de todos os lados: dos demais Poderes, dos grupos organizados, das múltiplas carências sociais.

Também faz parte do kit populista criticar "o mercado", que, nas palavras de Bolsonaro, seria "muito nervosinho". Para os populistas, "o mercado" é sinônimo de "mercado financeiro", gente insensível que só pensa em dinheiro. Reforçando o argumento de seu oponente, Lula não perde oportunidade de incitar o confronto entre os banqueiros e o interesse do povo.

O "mercado", na verdade, são todos aqueles que conseguem acumular alguma poupança e que, direta ou indiretamente, investem na produção: assalariados, pequenos empresários, fábricas, supermercados.

Quando o populismo produz inflação, baixo crescimento ou calote, todos entram no modo de proteção de seus patrimônios. A construção da nova fábrica ou da nova filial do supermercado é adiada. Aplicações financeiras são sacadas dos bancos, e os recursos, remetidos ao exterior ou entesourados sob a forma de dólar, ouro ou outro ativo considerado seguro. Deixam de estar disponíveis, no caixa das instituições financeiras, para financiar novos investimentos na produção.

Quem mais perde nesse processo, ensinam Dornbusch e Edwards, são as pessoas de menor renda, que não têm poupança e não conseguem defender seu patrimônio. Vivem do que recebem a cada mês, e isso é corroído pela inflação e pelo baixo crescimento.

O mercado financeiro, que tem por função aplicar os recursos de seus clientes, é onde primeiro aparecem as más notícias. Os populistas atiram no mensageiro.

Os extremos ideológicos também se irmanam ao tratar do preço dos combustíveis. Para ambos, a solução são o tabelamento e o subsídio governamental. Ignoram que isso representará, ao mesmo tempo: expropriação de quem investiu na Petrobras; aumento nos custos para financiar novos investimentos no setor; gasto de dinheiro público para subsidiar o consumo de combustível pelos ricos; mais gastos públicos para recapitalizar a Petrobras após acúmulo de prejuízos; redução da oferta de combustíveis alternativos, que se tornam menos competitivos diante do petróleo subsidiado.

A ameaça de intervenção na Petrobras gera incerteza e desvaloriza o real. Em consequência, o preço dos combustíveis, cotado em dólar, sobe ainda mais, em vez de cair. Tiro no pé, como sempre ocorre nas bravatas populistas.

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