Marcos Nogueira

Jornalista, é autor do blog Cozinha Bruta.

Marcos Nogueira

No começo dos anos 1980, jovens comiam até passar mal por diversão

Grupo Sérgio era uma das 'arenas' na disputa desse esporte glutão

Fabrizio Lenci

A gente não tinha McDonald’s. Nem Burger King. Não tinha Habib’s. Se alguém sugerisse algo parecido com uma temakeria, seria chamado de maluco. Mas a gente tinha o Grupo Sérgio. No começo dos anos 1980, era para lá que íamos nós, jovens famintos, sem dinheiro e sem noção.

Você pode ler por aí que o Grupo Sérgio era um rodízio de pizzas. Uma definição imprecisa. Era muito mais que isso. Era uma arena. Lá se disputava um dos esportes favoritos da juventude primitiva daqueles tempos: a maratona dos glutões.

Havia restaurantes do Grupo Sérgio espalhados pela cidade. O salão era monstruoso de grande. Para ter uma ideia da dimensão, os imóveis do grupo depois foram ocupados por igrejas evangélicas.

Depois da escola, pegávamos o ônibus Sacomã e desembarcávamos na Lins de Vasconcelos, quase esquina com a Heitor Peixoto, no Cambuci. Íamos em grupos de dez, 15 moleques. As meninas, não entendo o porquê, nunca nos acompanhavam. 

O objetivo: comer até passar mal. Ao sentar, pedíamos um suco de laranja (ajuda na digestão). Estava dada a largada.

Pizza de mussarela, calabresa, atum, portuguesa, alho e óleo. Ainda não existia frango com Catupiry nem tomate seco com rúcula. Frango assado. Pastel. Nhoque. Lasanha. Tinha até picanh... carne.

O bom competidor se concentrava nas pizzas, já que cada fatia valia um ponto no jogo.

Ninguém sequer sonhava em vencer o Tchê, um grandalhão gaúcho do nosso grupo. Ele comia pedaços de pizza às dezenas. Falavam coisas dele. Diziam que já fora expulso por comer demais. Que havia almoçado e jantado no mesmo dia, sem intervalo.

No final, nenhum de nós sabia ao certo o quanto havia comido. Queríamos dar risada, mas a dor de barriga não deixava. Restavam a azia e o arrependimento.

Saudade do Grupo Sérgio.

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