Marcos Nogueira

Jornalista, é autor do blog Cozinha Bruta.

Marcos Nogueira

Cozinhas do inferno

Comer em São Paulo no século passado era um esporte radical

A arqueologia da cena gastronômica paulistana pode desenterrar casos assombrosos, no pior sentido possível.
 
Eu me lembro de um domingo em janeiro de 1986, quando cheguei de minha primeira viagem internacional. Meus pais me levaram para comer na trattoria Via Veneto, na alameda Barros, então meu restaurante favorito.
 
Pedimos nhoque ao sugo, tanto eu quanto meu pai. Eu limpei o meu prato, o velho deixou sobrar. Puxei o prato dele para mim e, depois de algumas garfadas, encontrei meia barata. Meia barata... o que ocorrera com a outra metade? Terror.
 
No mesmo ano, outro episódio de horror em outro restaurante italiano. Fiscais da vigilância sanitária apareceram sem aviso no Remo e Romulo, numa esquina da Pedroso de Morais.
 
Um queijo parmesão jazia sobre uma mesa. Cheirava mal. Antes que os inspetores o averiguassem, o gerente da casa tomou a iniciativa de parti-lo ao meio. “É um queijo muito especial”, teria dito o homem. De fato: dentro dele residia um rato.
 
O caso se impregnou na minha mente. Está registrado nos jornais da época. Outros, porém, habitam o imaginário do paulistano, mas sem comprovação documental. Eu, pelo menos, não a encontrei. Vou tratá-los como lendas urbanas.
 
Uma famosa churrascaria do centro, ainda em funcionamento, teria sido autuada por dessalgar as carnes da feijoada em uma banheira, no banheiro dos funcionários.
 
Noutra churrascaria da região central, executivos de uma montadora de automóveis se reuniam para celebrar o fim do ano. 
 
De repente, o teto começou a rugir. Uma ratazana do tamanho de um cocker spaniel despencou sobre a mesa dos colegas, junto com o forro.
 
Comer em São Paulo no século passado era um esporte radical.
Ilustração da coluna de Marcos Nogueira
Fabrizio Lenci

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