Marcos Troyjo

Diplomata, economista e cientista social, é diretor do BRICLab da Universidade Columbia

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Descrição de chapéu Brics

A ascensão da "Chíndia"

China e Índia entram em nova fase de adaptação criativa e miram Sudeste Asiático

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Funcionários da indiana Infosys deixam complexo da empresa na Cidade Eletrônica de Bangalore, na Índia
Funcionários da indiana Infosys deixam complexo da empresa na Cidade Eletrônica de Bangalore, na Índia - Vivek Prakash - 4.set.2012/Reuters

Quase 3 bilhões de produtores e consumidores. China: oficinas de manufaturas baratas. Índia: galpões de call centers e outsourcing a custos ínfimos. Estereótipos como esses, que de fato marcaram a ascensão econômica de China e Índia a um PIB nominal combinado ao redor de US$ 15 trilhões, serão cada vez mais raros.

Basta visitar os principais hubs industriais e tecnológicos desses dois países, como Shenzhen e Bangalore, para perceber como a 'Chíndia', termo cunhado pelo parlamentar indiano Jairam Ramesh para designar o eixo mais pujante dos mercados emergentes na Ásia, entrou numa nova fase de adaptação criativa.

Para a China, a primeira fase de adaptação criativa significou a reorganização da sua capacidade produtiva para que o país pudesse se tornar líder em exportações. Fomentou ademais parcerias público-privadas que disponibilizaram o capital necessário à expansão da sua infraestrutura. Controlou salários, taxas de câmbio e fatores de produção para turbinar sua alta competitividade.

Na Índia, a adaptação criativa foi materializada, nos últimos 25 anos, pela provisão de alternativas mais baratas em áreas como tecnologia da informação, farmacêuticos e têxteis. Bangalore, o hub de tecnologias da informação, floresceu graças a essa política, e virou o berço de grandes conglomerados da indústria digital indiana, como é o caso da Infosys.

Há crescentemente na 'Chíndia' a noção de que os mercados tradicionais dos Estados Unidos e da Europa estão em recuperação, mas que de fato o eixo geoeconômico do mundo está localizado no Sudeste Asiático.

Assim, a 'Chíndia' está se voltando cada vez mais a sua própria região. A China implementa medidas voltadas ao desenvolvimento de cadeia de fornecedores nos mais diferentes setores em países como Vietnã, Tailândia, Mianmar e na própria Índia.

Se um fabricante de aeronaves pretende vender seu produto para o cliente mais importante da China, que é o governo chinês, há que produzir, essencialmente, 70% dos componentes dos aviões na China, gerando, portanto, impostos e empregos no país.

A China tem capacidade de investimento e, para além de seu banco de desenvolvimento —o maior do mundo—, conta com novas instituições lideradas por Pequim que apenas fortalece o campo magnético de sua influência e poder econômico. Tudo isso ajuda na transformação do modelo econômico de uma ênfase orientada a exportações para maior atenção ao mercado interno ou mesmo ao crescimento turbinado pela criação de projetos estruturantes na Ásia-Pacífico.

Aqui, será fundamental o conjunto de medidas para incentivar empresas de pequeno e médio porte, e não apenas megaempresas exportadoras, muito privilegiadas em termos de crédito e tributos na primeira fase da ascensão chinesa. A adoção dos parâmetros intensivos em tecnologia característicos da Indústria 4.0 será mais ágil em unidades empresarias de escala média.

Na Índia, temos uma situação muito desigual. Quando se trata de tecnologia da informação, biotecnologia e farmacêutica, os avanços são grandes porque contam com um grande aporte de investimentos do setor privado. As empresas multinacionais fazem suas pesquisas na Índia por causa do custo relativamente baixo de produção e do alto nível de capital intelectual humano lá existente. Hoje, na Índia, há mais telefones celulares do que banheiros. Há mais bilionários do que no Reino Unido e na França juntos.

Mas é também um país em que há pessoas mais pobres do que em todo o continente africano. Para a Índia fazer frente aos novos desafios, sua principal tarefa é a simplificação das práticas negociais e a paralela diminuição da burocracia. Além de tamanho, em ambos os casos, o continuado sucesso da 'Chíndia' dependerá essencialmente de velocidade empresarial.

Nesse aspecto, ainda que a Índia tenha crescido percentualmente mais do que a China nos últimos dois anos, o ritmo e sintonia de adaptação chinesa aos novos tempos é bastante maior.

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