Marcos Troyjo

Diplomata, economista e cientista social, é diretor do BRICLab da Universidade Columbia

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Marcos Troyjo

Os 40 anos da abertura comercial chinesa

Dinâmica de reformas propiciou o que muitos consideram o maior feito econômico da História

Os dois homens com as pipas são vistos de perfil e à distância. O primeiro da esquerda para a direita tem uma menor, com cores vermelha e branca, enquanto o segundo está com outra rosa e amarela. Ao fundo aparece o skyline com o sol à esquerda.
Homens carregam pipas na região próxima ao rio Huangpu, na margem oposta ao centro financeiro de Xangai - Johannes Eisele/AFP

A China está comemorando 40 anos de sua política de abertura. Sob o comando de Deng Xiaoping, a dinâmica de reformas posta em marcha naquele ano propiciou o que muitos consideram o maior feito econômico da história da humanidade.

Há quatro décadas, um chinês médio era cerca de doze vezes mais pobre que um brasileiro. Hoje, ambos têm renda equivalente —e os chineses continuam em tendência ascendente. 

O comércio internacional, para a China, operou milagres, e colocou o país em rota de ocupar o posto de maior economia do mundo —posição que ostentou por muitos séculos até o início do século 19, quando a Revolução Industrial (e também o comércio) fez os britânicos arremeterem.

Em alguns círculos acadêmicos, as medidas de Deng Xiaoping recebem o título de Política de Porta Aberta (Open Door Policy, em inglês).  

No presente contexto de guerra comercial e de debate, no Brasil, sobre se uma abertura deveria ser unilateral (em que o país não exige contrapartidas para abrir seu mercado interno) ou negociada (onde os princípio fortes são gradualismo e reciprocidade), vale a pena registrar no que consistiu a experiência chinesa. 

O ponto de partida é o de que, nos anos 1970, havia no contexto global da Guerra Fria motivos eminentemente geopolíticos para que o Ocidente oferecesse benefícios apetitosos para a China. Daí, Pequim ter obtido, por meio de princípios como o da nação mais favorecida, acesso privilegiado, como base de exportações, a mercados de EUA e Europa. 

Abertura, nesse caso, representou para a China, perspectiva de aumento das exportações e ao mesmo tempo importações (de insumos, máquinas, equipamentos e técnicas produtivas e gerenciais). Tal processo foi possibilitado, em sincronia, pelo dramático aumento do volume de investimento estrangeiro direto (IED) direcionado ao território chinês. 

Pouco desse IED foi atraído à China com o intuito de aproveitar a abertura no sentido de poucas restrições a vendas diretas ao consumidor chinês. Todo o esforço foi no propósito de transformar a China numa robusta máquina exportadora. 

A abertura chinesa também foi implementada mediante modalidades daquilo que hoje classificaríamos como PPPs (parcerias público-privadas). O capital estrangeiro que chegava à China —para valer-se das vantagens exportadoras e do acesso ao amplo e barato estoque de mão de obra— era também convidado (na satisfação de seus próprios interesses) a investir em infraestrutura.

Tudo isso permitiu aos chineses fortalecer seus canais logísticos e energéticos num instante em que os recursos endógenos para tal simplesmente inexistiam. 

A porta aberta chinesa também significou mostrar-se para o mundo. Os últimos 40 anos foram de intensos road shows sobre produtos, habilidades e oportunidades para investimento na China. E os estrategistas chineses logo perceberam a importância do turismo de negócios. Já faz vinte anos que a China se converteu no maior polo realizador de feiras e exposições comerciais do mundo. 

Hoje, para qualquer país, seja por diferente contexto histórico ou escala, é virtualmente impossível copiar a experiência chinesa. Pode-se, no entanto, com ela aprender —sobretudo em termos da importância de coordenar diferentes vetores (industriais, diplomáticos, cambiais, infraestruturais, etc.) para a obtenção de resultados positivos.

Longe de apenas uma mera redução de tarifas ou quotas de importação, a abertura chinesa foi um complexo e multifacetado projeto de inserção internacional.

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