Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcus André Melo

O mito do nordeste vermelho

O eleitor é o árbitro de trade offs entre ganhos federais e locais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Como explicar o voto presidencial no PT e o local nas oligarquias predatórias tradicionais?

Nas eleições municipais de 2012, o PC do B elegeu cinco prefeitos no Maranhão. Quatro anos depois, este número pulou para 46, aumento de 920%. O Maranhão elegeu 58% do total de prefeitos eleitos pelo partido no país.

Como explicar mudança de tal magnitude? Houve massiva conversão do eleitorado ao programa do partido? Não, a explicação é mais simples: O PC do B fez o governador em 2014.

A força centrípeta dos governadores nos estados pobres (efeito incumbente) é a chave para entender o fenômeno que tem dado margens a interpretações de que teria havido realinhamento partidário à esquerda na região. Essa visão ignora que a contraparte do voto para presidente no candidato petista é o voto para outros cargos nas oligarquias familiares ultraconservadoras e predatórias que controlam historicamente a política.

Os governadores do Nordeste Renan Filho, Camilo Santana, Wellington Dias, Flávio Dino e Fátima Bezerra em encontro em Brasília, em maio
Os governadores do Nordeste Renan Filho, Camilo Santana, Wellington Dias, Flávio Dino e Fátima Bezerra em encontro em Brasília, em maio - Agência Brasil

O voto presidencial tem sido influenciado pela política social. Sob FHC ela nacionalizou-se. Até então sua dinâmica era subnacional: atores locais e estaduais eram responsabilizados por programas de cunho redistributivo (exceção à política de salário mínimo e às frentes federais de emprego).

Com isso o eleitorado pobre vota nas eleições presidenciais em quem se mostrar mais eficiente em programas redistributivos federais. Em Imperatriz (MA) ou Guarulhos (SP), o eleitorado vota racionalmente: premia quem redistribui mais ou melhor. Pesquisas empíricas mostram que, controlando pela renda, há pouca variação regional do voto presidencial.  

O que muda regionalmente é a centralidade do governo estadual na política. Nos estados pobres, o governador controla a máquina que alimenta as redes políticas locais. Para o eleitor pobre, a estratégia dominante é votar nos candidatos dessas redes por sua capacidade de atrair investimentos e por receio de ser excluído dos benefícios gerados por elas.

O eleitorado premiou o PT por programas redistributivos. Mas medidas de Temer e Bolsonaro —aumentos reais e 13º para o Bolsa Família— mostram que redistribuir renda tornou-se imperativo político. É o efeito previsível do conhecido teorema do eleitor mediano.

Nem tudo é renda: há outras dimensões na política —regionalismo e pauta de costumes— que, no Nordeste, têm traços conservadores.

Os governadores da oposição beneficiam-se do efeito incumbente, mas chegaram ao poder através de alianças (derrotadas), nas eleições presidenciais, que são, portanto, instáveis.

O mapa do voto reflete incentivos múltiplos e não se reduz a identidades partidárias ou ideológicas. O eleitor é o árbitro de trade offs entre ganhos “federais” e “locais”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.