Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

Bolsonaro e seu futuro

O que é bom para a sobrevivência política, é ruim para a reeleição

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Um dos fatores decisivos para o futuro de Bolsonaro é sua relação com o sistema partidário. Diria que há dois Bolsonaros: o candidato e o institucional. O primeiro governou até abril, embora desponte em arroubos ocasionais. É uma persona que mobiliza emoções; ele é reativo à velha, política, anti-institucional.

O segundo Bolsonaro é a liderança de um campo partidário que venceu as últimas eleições. Ocorre que a conversão do primeiro no segundo tem custos. Esta mutação não ocorreu com nenhuma das lideranças populistas com que Bolsonaro é comparado: Trump, Orbán, Kackynski.

Bolsonaro ascendeu ao poder sem o apoio de um partido, e se mostrou incapaz de criar um. Trump, por sua vez, conquistou a candidatura através de disputa interna em um partido centenário. E 94% dos eleitores que se declararam apoiadores do partido votaram nele em novembro. O apoio que desfruta mesmo após sua derrota decorre do fato de que Trump gerou ganhos partidários: alavancou o comparecimento às urnas e reverteu perdas junto ao eleitorado latino e negro.

Viktor Orbán, na Hungria, ascendeu ao poder comandando um partido, o Fidesz, que tornou-se o maior do país. A agremiação de centro deslocou-se para a direita radical que já era ocupada por outro partido, o Jobbik. Movimento semelhante ocorreu na Polônia, onde o PiS, moveu-se do centro para a direita sobre a liderança de Kaczynski. Ambos partidos são majoritários no parlamento.

Poderá Bolsonaro reproduzir a estratégia com um bloco com cerca de 175 deputados (menos de 1/3 da Câmara), do PP, PSL, PL, Solidariedade, Avante, PTB, PROS, Republicanos)?

O multipartidarismo brasileiro imprime sua marca nas relações Executivo-Legislativo: ele exige a formação de coalizões superdimensionadas. Um chefe do Executivo populista irá se deparar com um sistema institucional que imporá limites a sua discricionariedade.

As águas estão voltando ao leito do rio. O presidente sucumbiu à força da estrutura institucional e não tem apoio na opinião pública para seu unilateralismo. E a maioria que o elegeu é negativa: forjou-se pela rejeição da opção rival.

O fator que permitiu a sobrevivência do Executivo —a formação de uma base parlamentar— é o que pode levar à perda de seu apelo popular; a negação de sua persona e suas bandeiras fortes. A política da autenticidade —que é o seu trunfo— não sobreviverá quando o líder abraça o que antes renegava.

O apoio do bloco só existirá se Bolsonaro for popular. Mas o personagem institucional mata paulatinamente a persona. E esta só será competitiva se a disputa for fortemente polarizada e a economia não naufragar.

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