Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares

No pior dos mundos

Governo tem horror à ciência, persegue organizações ambientalistas e desdenha da crise climática

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Com o lema "Hora da ação", a 25ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP-25), que acaba amanhã em Madri, se reuniu sob pressão do agravamento dramático da crise ambiental. 

Cientistas do clima preveem que, para manter as coisas sob controle, é preciso que o aumento da temperatura da Terra fique em torno de 2°C nas próximas décadas, ponto além do qual o planeta ficaria exposto a gigantescas catástrofes naturais.

Em documento recente, afirmam que, para preveni-las, já não bastariam as metas de redução das emissões de carbono na atmosfera, definidas por cada país signatário do Acordo de Paris, em 2015. Será preciso um esforço mundial de mudança nas formas e usos de energia, buscando estilos de crescimento econômico que reduzam ao mínimo a utilização de combustíveis fósseis --petróleo, gás natural e carvão-- em que se baseia nosso modo de vida.

Em Madri, a discussão passou por definir regras do mercado de créditos de carbono, bem como a distribuição das responsabilidades e custos da proteção ambiental. Se a questão é complicada no âmbito da negociação multilateral, é ainda mais difícil dentro de cada país. 

A proteção ambiental —e a reconversão econômica que deve acompanhá-la— tem custos presentes importantes e resultados que, por ocorrerem no futuro, são imponderáveis. As medidas necessárias podem penalizar hoje amplos setores da sociedade, a exemplo dos usuários de veículos movidos a gasolina ou diesel, quando governos optam por taxar combustíveis fósseis; ou as atividades agrícolas quando limitam o uso de agrotóxicos ou criam zonas de proteção interditadas à lavoura ou à pecuária.

Não surpreende, pois, que a agenda ambiental tenda a dar pouco voto. Partidos verdes não são propriamente campeões eleitorais —salvo em alguns países da União Europeia onde aumentou de forma expressiva a presença ambientalista no Legislativo.

No Brasil, da extrema direita à esquerda, os partidos —com exceção da Rede— se mantêm alheios ao debate sobre nosso futuro comum. No último congresso do PT, o tema fez uma aparição fugaz: foi mencionado, com reveladora economia de palavras, em apenas uma das nove teses apresentadas. O assunto tampouco ocupa espaço nas manifestações de seus líderes. 

Os muitos avanços obtidos no país se deveram a governos que tiveram o mérito de entregar a política ambiental a uma coalizão informal de ecologistas e pesquisadores. Agora, com um governo de extrema direita que tem horror à ciência, persegue organizações ambientalistas e desdenha da gravidade da crise climática, ficamos no pior dos mundos.
 

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