Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci

Pagamos caro pela inflação da insegurança

Os roubos de carga aumentaram 300% entre 2010 e o ano passado

Terminal de cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos - Bruno Santos/ Folhapress

Talvez você ainda não tenha parado para pensar nisso, mas os roubos de carga impactam negativamente os custos de produção. Consequentemente, já estamos pagando caro por estes crimes nos preços de produtos e serviços. A falta de competência das autoridades para prover segurança aos cidadãos, portanto, nos lega a ‘inflação da insegurança’, pois empresas estão transportando cargas via aérea também em rotas curtas, como São Paulo-Rio, para evitar assaltos.

No país dos impostos, bancamos mais um tributo indireto: o ‘pedágio do roubo de cargas’. Como contou matéria desta Folha, não há entrega dos Correios em 43,6% dos endereços do Rio de Janeiro. Os roubos de carga aumentaram 300% entre 2010 e o ano passado.

Mesmo em São Paulo, com melhores indicadores de segurança pública, em quase um terço da cidade ocorrem restrições ou simplesmente não há entrega de encomendas em função da violência.

O consumidor perde sempre. Se quiser evitar prejuízos, tem de fazer seguro, mas nem sempre o ressarcimento equivale ao valor da encomenda segurada.

Não haja dúvida de que tudo isso, além de prejudicar o cidadão, nos impõe perdas de produtividade, despesas com táxi ou aplicativos de transporte e tempo jogado fora.

Um profissional liberal, por exemplo, tem de interromper suas atividades por algumas horas para retirar importante encomenda na agência dos Correios. Por alguns minutos ou horas, deixará de trabalhar e de ganhar dinheiro.

Nem me refiro, aqui, a grandes corporações que adiam investimentos em novas unidades de negócios devido à insegurança. Esses prejuízos são incalculáveis.

Há diversas atividades que não caberiam ao Estado, mas que estão nas mãos dele, devido à estatização de parte da economia. Poderiam, tranquilamente, ser exercidas por empresas privadas. Segurança, não. Logo, os governos estaduais e federal falham exatamente em uma área básica para todas as atividades.

O Estado brasileiro só não se descuida na hora de escalpelar o contribuinte. Novamente, a tabela do Imposto de Renda não foi corrigida, o que significa aumento da carga tributária sem aprovação do Congresso Nacional. Pagamos mais para receber cada vez menos.

Sistemas de vigilância eletrônica, seguranças e transporte por carro-forte são despesas cada vez mais pesadas para as empresas de todos os portes. O crime se organiza com organogramas ao estilo de corporações internacionais e atrapalha o espírito empreendedor do brasileiro, que luta para criar seu próprio emprego, já que não há mais vagas no mercado, exceto as informais e temporárias.

A inflação da insegurança, lamentavelmente, está longe de acabar.

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