Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci

Acordo para reduzir açúcar nos alimentos apenas adoça opinião pública

Empresas não serão obrigadas a aderir às metas acordadas entre Ministério da Saúde e indústria

Balas de açúcar
Balas de açúcar - Silvio Cioffi/Folhapress

O acordo entre Ministério da Saúde e indústria para reduzir a quantidade de açúcar nos alimentos e bebidas industrializados, desculpem o trocadilho, somente adoça a boca do consumidor e da opinião pública. Continuará cabendo a nós selecionar muito bem o que comemos para não consumir excesso de açúcar, especialmente aos pais de crianças e de adolescentes.

A meta de cortar 144 mil toneladas de açúcar destes produtos nos próximos quatro anos parece relevante, mas considera o teor máximo em cada item. Por isso, a quantidade, muitas vezes, ficará na média atual do mercado. Além disso, as indústrias não serão obrigadas a aderir, pois o acordo prevê participação voluntária. 

Nem precisaria enfatizar que açúcar demais é fator primordial de doenças como diabetes. Também é uma das causas da obesidade e das cáries. Até porque praticamente tudo o que vai à mesa de refeição tem açúcar, mesmo que não seja adicionado na produção nem no preparo. Consumimos diariamente frutose (frutas), lactose (leite e derivados), sacarose (extraído da cana de açúcar e beterraba), amido (batata, arroz, trigo) etc.

Parte dos alimentos ultraprocessados contém alto teor de açúcar, como são os casos de doces, sorvetes, refrescos, biscoitos recheados, achocolatados, refrigerantes etc.

Embora a passagem bíblica enfatize que o mal não seja o que entra, mas sim o que sai pela boca do homem (as palavras que ferem e machucam o próximo), na alimentação o mal está no que ingerimos.

Excessos de gordura, sal e açúcar estão dentre os principais agentes das doenças e do envelhecimento precoce. O costume de adoçar tudo vem da infância, e é raro encontrar alguém que não goste de doces, balas, bolos, biscoitos, refrigerantes etc. Da mesma forma, temos péssimos hábitos relativos ao sal. 

Muitas pessoas, por exemplo, ainda usam o saleiro com vigor para temperar batatas fritas já condimentadas. 

Antes, talvez não nos preocupássemos tanto com isso porque vivíamos muito menos. A expectativa de vida dos brasileiros aumentou mais de 30 anos entre 1940 e 2016. 

Viver mais é uma bênção, mas implica cuidados com os hábitos diários. Dieta saudável e equilibrada, exercícios físicos regulares e boas horas de sono não são opcionais para quem pretenda aproveitar bem os anos a mais de que dispomos.

Salgar e adoçar os alimentos são obstáculos à vida mais longa. A boa notícia é que, com ou sem acordos efetivos para reduzir o percentual de sal, gordura e açúcar em alimentos e bebidas, já nos demos conta de que devemos controlar o consumo destes itens.

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