Um dos princípios do excelente Código de Defesa do Consumidor (CDC), a educação para o consumo, nunca saiu do papel. Em um país que despreza as salas de aula com força e método, esse descaso não surpreende.
Também não se estranha que, ante o cruel desemprego à brasileira, quase 40% dos jovens já tenham sido ou ainda estejam negativados, com seus nomes em cadastros de devedores.
O levantamento da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil fala por si mesmo. Demonstra que a ruína orçamentária doméstica não é exclusividade dos adultos.
Temo que a situação, lamentavelmente, não melhore tão cedo, pois não há iniciativas para ensinar fundamentos financeiros básicos aos jovens. E parece distante o dia em que o desemprego descerá dos dois dígitos, com aumento de empregos formais que ofereçam salários decentes.
A combinação de desconhecimento com falta de renda é explosiva. Desde crianças, somos bombardeados com apelos ao consumo. Pequeninos que, no passado, mal teriam começado a caminhar, já se divertem com joguinhos em smartphones e tablets.
Não falham somente as autoridades, de quem, aliás, poderíamos esperar o quê? Estão mais preocupadas com suas batalhas políticas, com o poder, em todas as suas etapas.
Falhamos, também, nós, pais e responsáveis, que procuramos atender a cada desejo manifesto ou oculto de nossos filhos.
Temos grande dificuldade de impor limites. Não nos sentimos à vontade para dizer, “não, este brinquedo é caro demais”. Também nesse aspecto, o mundo mudou demais. No passado, havia datas para presentes — Natal, aniversário —, e me refiro aqui a quem tinha condições de presentear a criançada.
Não defendo um comportamento espartano, excessivamente rígido, mas há que utilizar, por exemplo, a mesada como instrumento de educação financeira. Se os gastos extras forem frequentes, o que estaremos ensinando às crianças? Que a renda é elástica e se adapta às nossas necessidades?
A educação para o consumo é uma questão de cidadania. Ainda mais em um período, como já estamos cansados de saber, em que as raras vagas que aparecem costumam ser informais, com baixa remuneração e sem direitos como plano de saúde, vale-transporte e refeição.
Esse cenário vai mudar? Tomara que sim, mas não há como garantir que seja em breve. Aprender a viver dentro do orçamento — e fazê-lo, obviamente — é um pressuposto fundamental para uma vida melhor, com mais ou menos dinheiro na conta-corrente. Quase quatro em cada 10 jovens endividados é uma triste expressão da nossa realidade.
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