Quem nunca assistiu a um filme de pirata no qual a bandeira com um crânio humano e dois ossos tremulava no alto do navio? Pois em pleno 2020 acusações de pirataria foram feitas pela Alemanha contra os Estados Unidos, por desviar máscaras cirúrgicas. Qual a lição para nós? Fortalecer a indústria nacional sem demora, pois, na hora da crise, predomina o Por salve-se quem puder.
Por exemplo, uma carga de respiradores artificiais, encomendada por estados brasileiros, não embarcou do aeroporto de Miami (EUA), onde fazia escala, rumo ao Brasil. Ficou retida e o contrato foi cancelado pela empresa fornecedora.
A questão médica é a principal. Salvar vidas. Mas, além disso, há décadas geramos empregos fora do país, o que contribui para o desemprego e a informalidade. Trato disso neste espaço porque o consumidor será peça importante neste rearranjo das relações de consumo.
Por questão de justiça, lembro que o sucateamento da indústria não começou ontem. Faz muito tempo que vem acontecendo, com alguns breves intervalos nos quais houve esforços para incentivar a produção local. Temos de reconhecer que muitos imaginavam que poderíamos exportar commodities – como soja, boi e minério de ferro – e importar itens eletrônicos sofisticados onde estivessem mais baratos. O coronavírus infectou esta percepção.
Na hora agá, quando uma pandemia mata milhares de pessoas, adoece milhões e isola bilhões do convívio social, o mercado internacional recria suas regras.
Nesse contexto, a 3M, indústria norte-americana presente no Brasil, não poderia exportar itens como máscaras para profissionais de saúde. Ainda nesta terça-feira, contudo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que comprará toda a produção de máscaras feita no Brasil pela 3M. Vamos aguardar que sejam entregues.
Este vaivém, no mínimo, mostra não haver segurança de que, em uma eventual nova epidemia ou pandemia, risco que não devemos descartar, possamos comprar equipamentos hospitalares e de proteção de fornecedores internacionais. Por exemplo, kits para testes como os que detectam o coronavírus.
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que a indústria brasileira avançou, pois tivemos de substituir importações. Evidentemente, vivemos em um mundo globalizado. O comércio internacional é muito mais forte, e as companhias têm processos produtivos em diversos países, às vezes complementares.
Mas aprendemos, agora, que podemos ficar sem as armas para combater crises, como a atual. Sem patriotadas nem nacionalismo arcaico, há que fortalecer a indústria nacional, por uma questão de sobrevivência. De preferência já, antes que nos faltem produtos fundamentais para tratar e curar milhares de pessoas.
A propósito, parabéns às montadoras e às empresas químicas e têxteis, nacionais e multinacionais, que estão fabricando insumos hospitalares no Brasil! E aos pesquisadores brasileiros que têm projetos para produzir itens fundamentais, como respiradores.
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