Desta vez não houve assassinato, como no caso João Alberto —cidadão negro morto por seguranças em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre, em novembro do ano passado—, mas novamente o racismo pontificou no comércio. Nesta segunda-feira (9), um homem negro de 56 anos teve de tirar a roupa para provar não haver furtado mercadorias no Assaí Atacadista, em Limeira (SP).
Para vergonha de todos nós, em muitos aspectos, ainda prevalece o pensamento escravagista em nosso país, que tem a maior população afrodescendente fora da África.
Mais uma vez, há nota oficial repudiando o nefasto acontecimento. Mas até quando essas situações se repetirão? Pergunto e respondo: enquanto não ficar muito claro que as empresas não endossam nem tolerarão tais atitudes. Além disso, estes que agridem, humilham, ofendem e desrespeitam pessoas por racismo deveriam temer as consequências judiciais de seus crimes.
Códigos de conduta e de ética são muito bonitos. Porém, por mais completos e abrangentes que sejam, não bastam. O respeito à diversidade só será efetivo e real quando ocorrer em todas as práticas empresariais, como o acesso a cargos de chefia e de direção.
As contratações de empregados e de prestadores de serviços devem ser muito bem-feitas. Contratar segurança, geralmente terceirizada, demanda muita cautela, pois não se pode delegar tal função a pessoas desequilibradas e racistas. No caso de João Alberto, a má contratação custou a vida dele!
Como observei ao escrever sobre João Alberto, o olhar discriminatório já ofende e intimida. Para mudar isso, há que transformar o pensamento. Entender que ainda temos muito a fazer para que as consequências da infame escravidão sejam superadas. E isso se faz com igualdade de oportunidades, e um novo olhar que enxergue pessoas, sem classificações segregacionistas.
Segundo o Instituto Ethos, embora a população negra represente 56% dos brasileiros, ocupa menos de 5% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país. Jovens negros são as principais vítimas de homicídios no Brasil.
O que se espera do Carrefour, do Assaí e de outras companhias de todos os portes são ações efetivas para evitar a violência racista, muito mais do que notas lamentando o fato já ocorrido. E que despendam inteligência, dinheiro e tempo para estabelecer políticas verdadeiras de igualdade, em todos os sentidos.
A discussão sobre a agenda ESG (ambiental, social e governança) nas empresas precisa ser corroborada por ações simples, mas efetivas, contra todo e qualquer tipo de discriminação. E esse não é o teto, e sim o piso para uma sociedade mais justa.
O racismo está expresso na concentração de renda, no desemprego, no subemprego, na violência, na falta de saneamento, na crise de moradias e em todos os monumentais problemas não resolvidos do Brasil. É imperdoável que a mentalidade escravagista ainda vigore tão fortemente por aqui. Uma vergonha para todos nós.
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