Caiu por terra, nesta semana, mais um dos discursos que Jair Bolsonaro abraçou durante a campanha eleitoral e seguiu propagando mesmo depois de assumir o cargo.
O presidente não gostou das novas regras para a nomeação de dirigentes de agências reguladoras e reclamou que estavam tentando transformá-lo em uma rainha da Inglaterra.
As normas, vetadas por ele, de fato retiravam poder do presidente. O poder de nomear livremente dirigentes de órgãos que têm a obrigação de fiscalizar serviços públicos ora administrados por privados, como telefonia, energia elétrica e saúde.
Pelo projeto, os indicados passariam por uma seleção pública, feita por uma comissão. De uma lista de três finalistas, o presidente escolheria um e o enviaria à sabatina do Senado. Mas aparentemente Bolsonaro quer manter a nomeação política. Ou pelo menos, a de sua política.
Não combina com o figurino do eleito que se orgulhou em repetir que formara seu ministério sem intervenções partidárias. Os políticos pareciam estar em baixa. O presidente deu preferência a militares na indicação para cargos no governo (aliás, ainda seriam militares ou já se converteram em políticos, uma vez que fazem política diariamente?).
O presidente pode até querer fazer crer que suas escolhas não são políticas, mas são. Representam preferências de um grupo que optou por legislar sobre posse e porte de armas, que prefere censurar comerciais de bancos estatais a saber como anda o ritmo de seus empréstimos ou, ainda, que acredita que ruralistas devam cuidar da demarcação de terras indígenas.
Nenhuma dessas iniciativas vai ajudar a gerar empregos e melhorar a qualidade de vida da população
—talvez a maior missão do presidente. Mas uma gestão profissional das agências reguladoras, sim.
Bolsonaro fez sua escolha. Ao desdenhar a urgência de 13 milhões de desempregados e dedicar seu capital político a uma agenda diversionista, ele próprio opta por vestir o manto de rainha da Inglaterra.
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