Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.
Treinadora de 74 anos ajudou atleta a bater recorde dos 400 m na Rio-2016
Os Jogos de 2016 foram um evento de afirmação para as mulheres. Enquanto em Londres a festa era por causa da inclusão delas em todas as modalidades, no Rio foram celebradas as performances. Simone Biles dando um basta a comparações e dizendo que não será "o novo Michael Phelps ou o novo Usain Bolt", Katie Ledecky e Katinka Hosszu dominando a piscina, Rafaela Silva, mulher, negra, da favela, único ouro do judô brasileiro.
Os EUA levaram 292 mulheres à Olimpíada, 52,6% da equipe, um recorde.
Mas ainda há lacunas, e elas aparecem principalmente entre aqueles que guiam os atletas até o pódio. É muito raro ver mulheres ocupando o posto de treinadoras na maioria das modalidades individuais e coletivas.
Ainda é uma barreira a ser quebrada. Como se elas fossem vistas como capazes de competir, mas não de orientar. O estigma só é quebrado ainda em esportes com predominância feminina, como nado sincronizado e ginástica rítmica.
Por isso salta aos olhos o que há por trás de uma das performances mais impressionantes dos Jogos. O sul-africano Wayde van Niekerk correu os 400 m rasos em 43s03 e derrubou um dos mais antigos recordes mundiais do atletismo, que já perdurava 17 anos. A marca anterior pertencia a Michael Johnson, uma lenda das pistas.
Quando o corredor cruzou a linha de chegada, uma vovó (bisa, na verdade) de cabelos bem brancos foi ao delírio na arquibancada. A imagem na TV não era da família de Niekerk celebrando. Era de sua treinadora.
Aos 74 anos, Anna Botha é a responsável por uma transformação técnica que levou o pupilo ao ouro e ao recorde. Tannie Nas (Tia Anna, na língua natal), como é conhecida, conheceu o corredor quando ele foi para a University of the Free State, em Bloemfontein, em 2012.
Ela comandava o time de atletismo desde 1990, mas ficou tensa ao assumir a carreira de um corredor deste nível internacional. Sua primeira intervenção foi tirá-lo nos 200 m rasos por causa da quantidade de lesões que o atleta sofria. O foco seriam os 400 m.
Depois, ajudou Niekerk a mudar sua técnica para conseguir passadas mais amplas, no estilo de Usain Bolt –uma abordagem moderna, o que derruba também o preconceito de que uma técnica idosa seria incapaz de acompanhar conceitos atuais. Assim, o pupilo passou correr com mais eficiência e conservar a velocidade até o final da prova.
Com Niekerk no topo do pódio, Tia Anna não pensa em parar. Diz que ainda pode render mais, que nunca é tarde para aprender. Mulher, 74 anos, treinando um dos homens mais velozes do mundo. Basta só dar chance a elas.
David Gray/Reuters | ||
Wayde van Niekerk comemora recorde mundial nos 400 m |
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