Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

'Todos os atletas usam drogas'

A assustadora afirmação é de Don Catlin, um dos maiores especialistas em testes antidoping do mundo

Delegação da Rússia participou da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno com a bandeira do COI
Delegação da Rússia participou da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno com a bandeira do COI - Eric Gaillard/Reuters

A assustadora afirmação é de Don Catlin, um dos maiores especialistas em testes antidoping do mundo, fundador do laboratório olímpico da UCLA (Universidade da Califórnia – Los Angeles).

Talvez você nunca mais consiga acompanhar eventos esportivos sem achar que tudo não passa de fraudes bem elaboradas depois de assistir ao documentário “Ícaro”, no qual Catlin é um dos personagens. O filme é um dos candidatos ao Oscar, que será entregue em março, logo após os Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang, que começaram na sexta (9), na Coreia do Sul.

Para quem não é de Carnaval, são dois ótimos programas, que têm suas histórias cruzadas porque a última competição em Sochi, na Rússia, foi palco do maior escândalo do doping na história do esporte.

Em “Ícaro”, o diretor Bryan Fogel, ciclista amador, decide melhorar seu desempenho em corridas com o uso de drogas proibidas pela federação e faz parceria com Grigory Rodchenkov, então diretor da agência antidoping russa.

O projeto de Fogel tinha como objetivo apenas colocá-lo entre os primeiros da Haute Route, considerado uns dos eventos de ciclismo amador mais prestigiados do mundo, sem deixar rastros e burlar os moderníssimos testes aos quais atletas são submetidos.

Mas, durante as gravações, Rodchenkov se viu no meio das investigações pedidas pela Wada (Agência Mundial Antidoping) sobre um esquema de fraudes envolvendo atletas russos, revelados pelo documentário “Dossiê Secreto Sobre o Doping: Como a Rússia fabrica vencedores”.

Ele renunciou ao cargo, fugiu para os EUA e, com a ajuda de Fogel, revelou tudo o que sabia sobre o esquema de doping que funcionava como política de Estado na Rússia. Nas denúncias, o ex-diretor aponta autoridades como o então ministro dos esportes, Vitaly Mutko, e também o presidente Vladimir Putin como responsáveis.

O especialista Don Catlin confirma no documentário o que parece meio óbvio e que já foi tratado por esta colunista: se as entidades que regulamentam os esportes têm testes cada vez mais sofisticados para desvendar fraudes, há um submundo muito mais eficiente em desenvolver drogas que não sejam detectadas ou em descobrir formas de administração que não deixem rastro.

A estimativa é de que mil atletas russos tenham se beneficiado desde 2011 desse esquema e de que a Olimpíada de Londres tenha sido corrompida numa escala sem precedentes, além do Campeonato Mundial de Atletismo, em Moscou.

“Ícaro” mostra com detalhes que o esquema em Sochi foi algo além do que a imaginação permite, por envolver políticos, autoridades antidoping, médicos e agentes do serviço secreto russo.

Rodchenkov hoje está num programa de proteção à testemunha do governo americano. Curiosamente, o COI rejeitou a recomendação da Wada de banir totalmente a delegação russa na Rio-2016, e 271 dos 389 atletas classificados puderam competir.

Apenas com as investigações concluídas, a entidade decidiu vetar a participação russa em PyeongChang. Só atletas convidados, aqueles que provaram estar limpos, poderão competir sob a bandeira olímpica.

Mas apesar de “Ícaro” desvendar apenas a corrupção institucionalizada no esporte russo é impossível deixar de pensar na afirmação de Don Catlin de que todos os atletas usam drogas para melhorar o desempenho. Todos.

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