Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

CBF faz manobra por debaixo dos panos

Nomeação sem divulgação de Gustavo Perrella como diretor causa estranheza

Gustavo Perrella
Gustavo Perrella participa de audiência publica na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para tratar do Estatuto do Torcedor. - Roberto Castro - 22.set.16/ME

Nunca antes na história deste país pensei que veria tal situação, mas hoje é possível que haja mais brasileiros com a escalação do Supremo Tribunal Federal na ponta da língua do que o nome dos jogadores que têm chances de defender a seleção na Copa da Rússia. 

Frases de ministros ilustram memes, camisetas e são proferidas ao mesmo tempo com erudição e deboche, mesmo em mesas de bar. Os ministros Barroso e Celso de Melo disputam o título de melhor jogada da temporada numa final eletrizante que marcou o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muito mais acompanhado do que amistoso da seleção. Conheço gente que desmarcou compromissos sociais e não saiu da frente da televisão. 

Ora, ora, caro leitor. Na semana em que o Brasil está prestes a ver um ex-presidente ser preso, logo depois que a Procuradora Geral da República pediu o indiciamento de um senador, aquele que quase se elegeu presidente, e de que o próprio presidente em exercício, que amarga mais de 70% de rejeição e se vê pela terceira vez enrolado em denúncias, ficamos sabendo que a CBF nomeou por baixo dos panos, como diretor da entidade, o dono de um helicóptero em que foram encontrados 445 kg de cocaína

Nenhum nome cairia tão bem quanto Casa Bandida do Futebol, com o qual a CBF foi batizada pelo meu ilustre colega de coluna Juca Kfouri. Não bastasse termos uma lista de ex-presidentes da entidade ou presos ou indiciados por corrupção, agora temos um diretor que foi protagonista de uma história mal contada até hoje. 

Gustavo Perrella foi empossado pela Casa Bandida em janeiro como diretor de Desenvolvimento e Projetos, mas curiosamente a sua nomeação não foi divulgada e seu nome não constava no expediente da CBF até que a Folha confirmou a contratação e questionou sua ausência na relação dos manda-chuvas. 

Perrella é tão insignificante a ponto de não constar na lista da entidade ou tentaram evitar justamente o que acontece agora? Que a notícia fosse parar em todos os jornais e o episódio do helicoca voltasse às manchetes. 

Gustavo tinha mandato de deputado, ele é filho do senador Zezé Perrella. Os dois nunca chegaram a responder judicialmente pela apreensão da droga por falta de provas, segundo as autoridades. Os delegados responsáveis pelo caso dizem que o piloto do helicóptero usou a aeronave sem conhecimento dos donos e que teria recebido R$ 50 mil para fazer o transporte da droga que pertenceria a traficantes internacionais. 

A história da ligação dos Perrella com o tráfico foi usada exaustivamente na campanha presidencial porque eles são aliados políticos de Aécio Neves. Até hoje, dia em que Lula deveria se entregar à Justiça, há dezenas de posts nas redes sociais que questionam a prisão do ex-presidente e a “impunidade” de Aécio, que é sempre ligado ao episódio do helicoca.

É bom lembrar que parte dos R$ 2 milhões pedidos pelo senador a Joesley Batista, e revelados em uma gravação entregue à Polícia Federal, apareceram na conta de quem? De uma empresa de Zezé Perrella. 
Gustavo pode não ter nada a ver com essas maracutaias do pai, mas não causa estranheza a CBF esconder essa nomeação?

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