Já há algum tempo se compara o Lulismo ao Malufismo. Mas agora é fato: o petista é o novo malufista, pelo que temos visto nas últimas semanas. O “rouba, mas faz” passou a ser o discurso oficial de parte dos indignados por causa da prisão do ex-presidente. E é fascinante ver como as justificativas mudaram e evoluíram conforme as fichas foram caindo, mais para alguns do que para outros, durante o processo que levou Lula à cadeia e também por causa dos outros seis que ainda estão em trâmite.

Muita gente acha que Lula é inocente. Tenho uma enorme simpatia por essas pessoas porque quase sempre penso que estou diante de gente só mal informada e não mau caráter. Soube que há muitos grupos de WhatsApp dedicados a defender a inocência do ex-presidente, incluindo de vários famosos com visíveis problemas de QI (ou de índole), e que muitos dos participantes desses grupos se informam exclusivamente por links enviados por outros integrantes, em geral, textos opinativos que apenas dizem o que a torcida quer ler. Deve ser muito louco viver numa bolha.

E tudo aquilo é lido, mastigado e vomitado outras tantas dezenas, centenas, milhares de vezes por outras pessoas que se abraçam e se sentem parte de uma irmandade ao proferirem #lulalivre no lugar de “bom dia”, “boa tarde”, “bom apetite” e mesmo para substituir “amém”, para os que são do “amém”. Como #foratemer não vingou, a aposta toda agora é #lulalivre. Virou a senha para ser aceito entre o povo escolhido.

Algumas dessas pessoas dizem que leram as 230 páginas da sentença sobre o tríplex do Guarujá e juram que não há uma única prova. Esquecem que um dos crimes era ocultação de patrimônio. Fico comovida como passamos de um país subdesenvolvido, em que quase metade da população não lê, a um lugar iluminado com cidadãos que não só consomem calhamaços de decisões jurídicas, mas entendem tudo o que vem escrito nelas. Porque, como sabemos, apesar do que foi julgado pelo juiz de primeira instância e depois confirmado por três desembargadores, a prisão de Lula é só uma armação da CIA, a mesma que nos contou agora que a era Geisel era ditadura mesmo.

O que causa mais surpresa e constrangimento é ver gente que tem todos os meios para se informar, ser razoavelmente honesta e assumir equívocos, mas num twist muito louco dessa história renegou o discurso de “a alma mais honesta do país” e sequestrou sem pudor o clássico malufista do “rouba, mas faz”.

Muitos simpatizantes do ex-presidente desistiram de defender o indefensável. Dizem que é claro que Lula roubou, é claro que tem culpa, é claro que o tríplex era dele, assim como o sítio, os pedalinhos e os remédios manipulados de Marisa Letícia. Mas para essas pessoas todo mundo roubava, então, né, porque o PT não podia?

Não sei se foi combinado, mas o “rouba, mas faz” tem aparecido nos discursos de quem diz que Lula roubou, mas tirou os pobres da miséria. Lula roubou, mas deu universidade aos pobres e negros. Lula roubou, mas só ele foi preso. Lula está sendo punido pelas políticas reformistas que deram apoio à massa da população que é reprimida, blábláblá, Whiskas sachê. Basicamente aquela ladainha de que a elite odeia o PT porque pobre agora anda de avião. A elite deve estar radiante porque nem a classe média tem dinheiro para isso.

Por essas e outras, ainda é preferível o crente. Aquele que não consegue sair para fora de sua bolha ideológica e acredita que Lula é perseguido, assim como os que juram que a Terra é plana, que o homem não pisou na Lua. Não é mesmo fascinante que exista gente assim?

O lulista-malufista precisa entender coisas simples. Quem roubou tem que ficar preso. Quem ocultou patrimônio não pode ser candidato à eleição. Que não faz o menor sentido querer #lulalivre porque “só ele está preso” –o que nem é verdade. Querer #lulalivre é abrir a porteira para Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Sérgio Cabral. É aliviar o futuro de Aécio e Temer.

Que legado político o de Maluf. Que momento patético o do PT.