Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Controlem seus pintos

Foi preciso aumentar o rigor da lei para que muitos entendam que estupro é crime

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Não é uma maravilha? Temos, agora, uma lei que penaliza quem importunar sexualmente outra pessoa sem consentimento. Significa que ninguém pode resolver suas urgências sexuais, suas taras e sua cabeça dodói, esfregando as partes numa mulher que acordou cedo, está espremida num vagão de trem, e só quer chegar ao trabalho. Não pode tirar o bilau para fora e se aliviar na moça que deu bobeira e cochilou 15 minutos, porque está acordada desde cedão. Não é incrível? Precisa de uma lei para que os homens aprendam a controlar seus pintos dentro das calças.

Foi necessário fazer uma lei. Os casos eram tantos, as denúncias se multiplicaram, fora as que nunca chegaram a ser feitas. Porque dá vergonha. Ou medo. E nojo. Muito nojo. E às vezes não dá nada. O troglodita saía andando pela porta da delegacia porque não era crime esporrar uma mulher distraída num lugar público. Agora vai dar cana. Claro, se as autoridades fizerem o que deve ser feito. A Lei Maria da Penha está aí, mas ainda tem mulher morrendo mesmo depois de denunciar violência doméstica.

Há duas semanas acordei com uma mensagem de uma funcionária. Com a voz de choro, ela me conta que não vem trabalhar porque levou um soco do ex-marido. Já tem seis boletins de ocorrência contra ele. Me vejo pedindo socorro a uma promotora conhecida para tentar evitar o pior. E as mulheres que não tem a quem recorrer?

Foi preciso também aumentar o rigor da lei para que entendam que estupro é crime e que juntar um grupo de amigos e forçar uma mulher a fazer sexo ou aproveitar de sua falta de consciência não é diversão, é uma brutalidade que merece punição ainda maior. 

Você pode pensar, ahh mas eu jamais faria isso. Talvez você não seja o tarado do metrô, mas contabilize em sua carteirinha de machão coisas que sempre foram consideradas atitudes normais entre os homens. Não são mais. Não dá para se beneficiar da escuridão da balada para passar a mão na bunda de uma garota. E uma encoxadinha despretensiosa? Não pode. E rodinha em volta de uma moça numa micareta para forçar um beijo? Claro, só ela não sabe que está desesperada para aguentar a baba de desconhecidos suados e fedorentos. Mãozinha safada no ladinho do peito? Esqueça. Puxão no cabelo, mão em volta da cintura. Não e ponto. Sexo com a sua mulher quando ela diz não? É estupro. Não conheço mulher que não tenha passado por alguma dessas situações.

A França sancionou uma lei que prevê multas em caso de assédio em espaços públicos. Não pode insultar, intimidar, ameaçar e seguir mulheres em espaços públicos. Não é inacreditável ter uma norma legal para que essas atitudes sejam reprimidas? Vai funcionar? Difícil. A vítima precisa encontrar uma autoridade para fazer a denúncia, provar que foi importunada, seja com imagens ou testemunhas. Ainda assim não dá para desmerecer a iniciativa porque talvez ela sirva ao menos para intimidar alguns idiotas.

Não, nem tudo é assédio. A barreira que separa a violência de uma relação consensual é clara. Ninguém, a não ser os extremistas religiosos e as manifestantes mais reacionárias, quer esterilizar os relacionamentos a ponto de que homens não ousem olhar para as mulheres com medo de serem acusados de assédio ou estupro. Infelizmente para alguns são necessárias leis para que essa linha fique mais nítida. Passou do ponto, é gritaria e cana.

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