Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Mensagens de fim de ano são um porre

Todas as redes sociais são agora fonte de tormento em forma de posts fofinhos e memes sem graças

Tem gente que comeu demais, bebeu além da conta, a minha ressaca é da enxurrada de mensagens de Natal. Por mais bem-intencionadas, recheadas com votos de saúde, alegria, paz e amor, com o advento da internet se tornaram apenas “spam do bem”, disparados aleatoriamente por parentes, amigos, conhecidos, desconhecidos, pela loja de roupa, pela de bebida, pela academia, pela clínica de massagem.

Muitas vezes, e cada vez mais, gente com que não nos sentimos nada íntimos (talvez a recíproca não seja verdadeira) e que se deixa embalar pela equivocada obrigatoriedade de enviar textos pasteurizados para desejar Feliz Natal, Páscoa, Ação de Graças, Halloween, Ano Novo e assim por diante.

Todas as redes sociais são agora fonte de tormento em forma de posts fofinhos, memes sem graças, animações, vídeos. Tudo temático. Nada que provoque no remetente sentimentos de carinho e acolhimento que deveriam ser a intenção.

Em uma das mensagens que recebi (e isso deve ter acontecido aos montes com todo mundo), a pessoa, talvez com pressa, esqueceu de trocar o nome do último remetente na hora de dar copiar&colar no texto enviado. Fiz graça, rimos, mas só confirmou a suspeita de que não sou (e ninguém é) tão especial para ser lembrada numa data assim por quem não é tão próximo.

Outra praga nessas ocasiões são os votos coletivos. O gênio quer felicitar geral, então, cria um grupo ou marca num post 117 pessoas e resolve a parada com uma digitada só. Se livra do fardo de ter que escolher palavras bonitas de forma personalizada. Sério, ninguém tem na vida 117 pessoas tão queridas que mereçam um pensamento de verdade generoso.

O problema maior é o que fazer com tantas felicitações? Ignorar? Difícil. Mas experimente responder de imediato a todas as mensagens ou retribuir os votos de saúde e de alegria de posts. É o jeito mais fácil de ficar alheio ao que acontece a sua volta e perder a festa, mergulhado na tela do seu gadget.

Não se trata de desdenhar o afeto. Longe disso, quem não gosta de ser lembrado e paparicado? Apenas não tenho dúvida de que somos de fato especiais para pouca gente. E que precisamos, ainda mais nesses momentos, gerenciar o tempo, encarnar o nosso “eu” mais namastê e viver o aqui e agora.

Percebi nos últimos anos que é quase um alívio a telefonia no Brasil ser um exemplo de ineficiência e que não dê conta de que todo mundo decida fazer contatos ao mesmo tempo. Os sinais desabam, a verdadeira paz se instaura e a gente pode abrir presentes, brindar, pular ondinhas, sem que o celular apite a cada 15 segundos e, principal, sem deixar de apreciar a companhia de quem mais gostamos porque estamos entretidos com o meme do pavê, que alguém, nem um pouco especial, acabou de mandar.

E no Réveillon tem muito mais, pessoal. Socorro.

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