Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Tenho saudade de mim mesma

Mas hoje estou de férias com minhas best friends. Só nós, sem maridos, sem filhos e uma vontade enorme de lembrar a garota que cada uma de nós ainda é

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“Tenho saudade de mim mesma”, disse uma amiga, enquanto colocava a taça de vinho sobre a mesa. Era uma noite quente, de uma terça-feira qualquer. Mais um gole, ela abre um sorriso e fala. “Tenho saudade da garota que eu era. Eu era divertida, né?!”. Era muito. “Você se lembra quando a gente foi parar numa festa com strippers, num buraco quente, no centro do Rio?” Claro, foi uma das noites mais engraçadas da minha vida.

“Tenho saudade de não dar satisfação para ninguém, de não ter que avisar que vou chegar mais tarde, de entrar em casa de madrugada, esbarrar nos móveis e não me preocupar com o barulho, nem com os choppes a mais. De encontrar aquele filme que eu amo passando na TV e não ter que ouvir ‘esse filme de novo?’. Sinto falta daquela garota corajosa que eu era, que decidia viajar e ia. De fazer e depois pensar. Minha vida está ótima, me casei com um cara bacana, tenho uma filha linda, mas me pego suspirando de saudade daquela garota que eu fui.”

Mulher saltando e segurando balões multicoloridos
Mulher saltando e segurando balões multicoloridos - Fotolia

Eu mesma só era a garota que eu gostava de ser porque tinha a presença dessa minha amiga e de algumas outras na minha vida. Me peguei com saudade de mim —saudade de mim com as minhas amigas. A vida passa mesmo, como os mais velhos sempre disseram, e ontem lá estava eu falando que a vida passa para alguém mais jovem. E a gente percebe que deixar qualquer coisa para o mês que vem ou para o ano seguinte podem nunca mais acontecer. Ficou mais real quando perdi uma amiga e aquela sensação de imortalidade me abandonou para sempre. Cada vez mais me agarro as que eu tenho, ainda que não tenha o tempo que gostaria para passar com elas.

A gente corre. A semana passa e não conseguimos conversar 10 minutos ao telefone ou almoçar uma vez por semana ou bater perna sem destino. As férias não caem na mesma época ou estão ocupadas com os namorados, maridos, filhos. Não sobram nem uns diazinhos para gente se aventurar com nossas parceiras de aventura.

E desde então, fico com a frase da minha amiga na cabeça. “Tenho saudade de mim.” E penso na importância das meninas, que ainda são meninas no meu coração, para a gente lembrar quem a gente é. Os homens são muito melhores nisso. Tem o futebol, o pôquer, o frescobol semanal. O choppinho no bar. Não é raro, estão lá batendo ponto com os amigos de infância. Tempo 100% deles, para eles serem o que são. O Leo, o Pedro, o João. Ali, eles não são o filho, o namorado ou o marido de ninguém. São eles, entre os amigos —e por isso continuam cada vez mais eles.

A gente sempre reclama de tempo. Tentamos espremer tudo em 24 horas. Tem jornada dupla, academia, supermercado, pós-graduação, eventos de trabalho, da família dos 'conjes' e o escambau. Mas reconheço que muitas vezes falta empenho da nossa parte para manter as amigas em volta. E então, dá essa saudade louca da gente mesmo, que fica meio perdida, sem cúmplice, sem referência de quem a gente é, da nossa essência. 

Mas hoje, exatamente neste momento, estou de férias com minhas best friends. Só nós, sem maridos, sem filhos, sem hora para ir embora. Só nós e uma vontade enorme de lembrar a garota que cada uma de nós ainda é.

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