Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Sexo não é obrigação

Mulher não é obrigada a transar com o marido

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“A gente não pode negar fogo para o nosso marido, porque se negar aqui, ele vai procurar ali. Ele quer, a gente tem que estar ali para ele não procurar em outro lugar.” Não parece uma daquelas frases saídas de revistas femininas da metade do século passado, que davam conselhos matrimoniais? Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, ensinava a revista Claudia, em 1962. Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas, dizia o Jornal das Moças, em 1957. 

Mas a declaração sobre “negar fogo”, mais precisamente “negar sexo”, foi dita num programa dominical, por Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos. É com essa pérola da estupidez conjugal que a moça ajuda a perpetuar uma convenção que, infelizmente, ainda resiste na cabeça de muitos. 

Casal na cama
Casal na cama - Divulgação

Transar é um saco quando vira obrigação e é assim que muitas mulheres se sentem dentro de uma relação estável. A gente tem que estar sempre limpinha, prontinha e cheia de tesão na hora que o homem decide que quer transar. Mesmo que seja num momento em que tudo o que queremos é tomar um banho, vestir uma calçola broxante e assistir a um episódio velho de uma série qualquer. 

Mas não, quando você pisca está lá, arreganhada, fingindo que gosta. E quem nunca se fez de morta na cama, quando sentiu aquele troço duro cutucando e ansiava por dormir só mais meia hora? Leva tempo, mas a gente aprende a dizer “não” e também a se relacionar com homens que respeitam o desejo alheio —ou a falta dele— sem se sentirem rejeitados ou com o orgulhinho de macho ferido. 

As “obrigações sexuais” são dos piores fantasmas que rondam a cabeça feminina. Entram na categoria “segura marido”, como se numa relação saudável houvesse a necessidade de medidas protetivas para que um casamento não broxe. A gente aprende que no pacote “na saúde e na tristeza” há também a cláusula implícita de que temos que topar sexo 24 horas por dia. E os homens crescem acreditando que a disponibilidade para transar está no “job description” da mulher. 

Somos cria de uma sociedade que prega que num relacionamento homem tem que comer e a mulher é obrigada a dar, mesmo que nenhuma dos dois esteja com vontade. Mas despertar o tesão feminino não é atestado de virilidade masculina. Macho mesmo é o cara que tem sensibilidade para entender e respeitar a vontade da parceira. Assim como está na hora de as mulheres aceitarem que homem nem sempre está a fim. E tudo bem. 

Damos um passinho em direção a relações mais saudáveis, e então vem alguém e em cinco segundo faz o desserviço de nos jogar de volta ao século passado com essa ideia de que temos que estar sempre dispostas porque, né?!, os homens são trogloditas, não conseguem controlar os pintos dentro das calças e precisam se aliviar na rua, se sua mulher “nega fogo”. 

A pessoa prega em rede nacional que as mulheres devem ser submissas e agir feito neuróticas para manter um relacionamento a qualquer custo. Quem quer continuar casada com um sujeito de caráter duvidoso, que pensa em comer fora quando o sexo não é servido em casa?

E isso não quer dizer que sexo não seja importante na vida de um casal. Sim, tem gente que descuida, espera o pagamento cair, ano bissexto, a volta do cometa Halley, para namorar pelado. Não dá. Em prol do amor, o tesão também precisa ser exercitado. Muitas vezes terá de ser com sono, com cansaço, com o trabalho atrasado, numa segunda de manhã ou numa quarta à noite, depois de colocar as crianças para dormir. O que não dá é bater ponto só porque o marido quer. Broxante.

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