Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Hangxiety, ressaca turbinada com ansiedade

Chiparam as palavras hangover e anxiety, ressaca e ansiedade, e, pronto, já temos mais uma coisa que pode nos matar de ansiedade: cachaça

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Há algum tempo não sei mais o que é ressaca. Ressaca é coisa de gente jovem. O que eu sinto agora depois de beber, e nem precisa ser muito, são os sintomas de chikungunya com surra de toalha molhada.

Nunca apanhei, e muito menos desse jeito, mas imagino que deva ser assim. Um drinquezinho a mais e levo um dia para sair do quarto. Três para voltar a respirar sem aparelhos.

Não importa se sua cabeça é jovem, a lombar e o fígado têm a idade que está no RG, às vezes, até mais, dependendo de como foram tratados na juventude. Nunca fui das mais cuidadosas.

E agora mais essa, como se não bastassem os sinais já tão indesejados de que passamos daquela linha imaginária que traçamos quando decidimos beber. A linha que vai sendo esticada com mais um brinde, mais uma saideira, mais um abraço amigo. Até que você sai tropeçando na linha.

Em dois episódios recentes, depois daquele primeiro apagão gostoso induzido pela bebida, acordei com taquicardia. Você já quer morrer, mesmo que só um pouquinho, por causa do mal-estar e da dor de cabeça e, de repente, acha que vai morrer mesmo, mas do coração.

Viva Bem - Ressaca 23.02
Arte Agora

O que antes era resolvido com aspirina, banho frio, algumas horas de sono e a promessa infalível de nunca mais beber chegou a outro patamar. Tomo um antiácido ou um ansiolítico?

Como tudo chega no exterior antes, os gringos, claro, já diagnosticaram esse novo estado miserável que o álcool pode nos deixar e batizaram de “hangxiety”.

"Shipparam" as palavras “hangover” e “anxiety”, ressaca e ansiedade, e, pronto, já temos mais uma coisa que pode nos matar de ansiedade: cachaça. E nem precisa ser muita.

A primeira vez foi pós-noitada com amigas, regada a vinho. Estava de férias. Na segunda, foram só algumas cervejinhas na praia. Como alguém pode acordar com ansiedade em situações assim?

O que acontece é o seguinte: primeiro o álcool nos relaxa porque encharca nosso cérebro de uma substância calmante. Em seguida, ele bloqueia neurotransmissores que nos deixam mais excitados, mas também mais ansiosos.

Tudo maravilhoso, não é mesmo? O problema é a manhã seguinte. Quando paramos de beber, o cérebro tenta equilibrar essas equações químicas provocadas pela bebida.

Ele para de produzir aquela poção mágica que nos acalma, mas corre atrás para suprir o déficit daquela que em grandes quantidades provoca o quê? Isso mesmo, ansiedade.

Numa pessoa sem histórico de ansiedade e de pânico, talvez o máximo que aconteça seja a velha ressaca moral. Bate aquele nervoso ao lembrar o que fizemos, o que falamos, por onde andamos quando os mecanismos de bom senso estavam desligados.

Quem nunca? Ansiedade em pequenas doses não faz mal a ninguém. Remédio para ressaca moral é vergonha na cara.

Mas para quem anda com ansiolítico na bolsa, para eventuais emergências, já beijou o chão frio do banheiro em busca de conforto durante uma crise, o jeito é beber menos. Ou nem beber, quando o que se procura dentro do copo é alívio e não diversão.

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