Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Tetas censuradas

Em tempos de notícias falsas, teorias da conspiração, discursos de ódio, tudo embalado com a refinada moldura das redes sociais, o que incomoda mesmo são as tetas

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Experimente digitar a hashtag tetas, no Instagram. Você vai se deparar com o seguinte aviso: “Essa hashtag está oculta. As publicações com #tetas foram limitadas porque a comunidade denunciou conteúdo que pode não cumprir as Diretrizes da Comunidade do Instagram”.

Em outubro, a plataforma anunciou que liberaria a exposição de seios femininos depois de protestos contra a censura de uma foto. A discussão é tão antiga quanto a hipocrisia. Estão liberados os peitos em três condições: se a pessoa estiver se abraçando, acariciando ou segurando. Isso mesmo. Se estiverem bem comportados, quietinhos, como numa pintura renascentista. E a hashtag continua banida.

Em tempos de notícias falsas, teorias da conspiração, discursos de ódio, cancelamentos, destruição de reputação, tudo embalado com a refinada moldura das redes sociais, o que incomoda mesmo são as tetas. Por isso tantas regras e a preocupação de que as pessoas de bem não se deparem com peitos atrevidos, metidos, salientes, provocantes, arrogantes, permissivos. Um perigo para a família brasileira.

Dançarina faz passagem de espetáculo com os seios a mostra
Dançarina do Grupo Corpo faz passagem de cena do espetáculo "Bach" e "Gira" (01 de ago. de 2017) - Bruno Santos/Folhapress

Teta não pode. Mas pode disseminação de notícia falsa. Curas milagrosas para Covid-19, dúvidas sobre a existência da pandemia, a trama comunista para dominar o mundo, chip implantado por meio da vacina, mudanças no DNA, kit gay.

Teta não pode, mas assédio direcionado tá liberado. O presidente da República promove perseguição contra opositores, críticos, jornalistas, que são alvejados por suas tropas de linchadores virtuais. Tudo é noticiado amplamente, mas ele segue firme e forte usando seu espaço para democratizar a barbárie com a anuência das redes.

Teta não pode, mas baixaria revanchista tudo bem. OK para golden shower, panelaço com piroca, deep fake de jornalista em corpo de atriz pornô, de cara de deputada no corpanzil de uma porca. Teta não pode, mas apedrejamento de mulher que assume usar vibrador não tem problema. Insinuar que é mal amada, mal comida, também tá valendo.

Teta não pode, mas chamar mulher de vadia, vagabunda, piranha, puta, dizer que vai estuprar, matar, pegar na esquina, pelo jeito não fere os códigos da “comunidade”.

Teta não pode, mas intimidação não pega nada. Há umas duas semanas, recebi ameaças de que estou “mais exposta do que imagino”, que sabem todos os “meus podres”, “até lá na casa, lembra?”, que na hora certa vão “expor safado mentiroso”.

A página foi denunciada por centenas de seguidores. Acionei uma pessoa do Instagram. A resposta depois de uns dias: apesar de ameaçadores e nada agradáveis, as mensagens não são contra a política e por isso não pode gerar exclusão ou bloqueio.

Mas o problema das redes sociais são as tetas.

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