Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Boy lixo

Passei por todos os tipos, do iniciante ao pós-graduado, o mais experiente te convence que a culpa de tudo dar errado é sua

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Tão fácil resolver a vida dos outros. De amigos a conhecidos, sou considerada ótima ouvinte e aquela dos conselhos desagradáveis, mas necessários. Quer se iludir? Procure uma cartomante. Quer saber a real? Vem comigo.

Quando me ouço dando conselhos, tenho a impressão de que cada centavo e cada minuto investidos na psicanálise me transformaram numa adulta equilibrada e bem resolvida. Mas quem ouve discurso não vê tombo, nem a variedade de boys lixo acumulados no currículo, porque não há terapia que remedeie paixão que emburre.

Já peguei muito boy lixo. Muito antes de virar modinha, de ter guia na internet para “identificar boy lixo em sete passos” e de ter boy lixo dando pinta na TV. Agora já tem sommelier de boy lixo. A pessoa é profissional em detectar boy lixo.

No relacionamento dos outros. Das amigas, das conhecidas, das famosas, de participante do BBB. É sempre assim, a trouxa é a último a perceber que é trouxa. O que a palpiteira profissional nunca mostra é quantidade de esqueletos que ela guarda no armário. Boy lixo é uma instituição.

Passei por todos os tipos, do nível 1 ao 10 de toxidade. Do iniciante ao pós-graduado. A diferença é que o mais experiente te convence que a culpa de tudo dar errado é sua. O amador simplesmente não se importa com o que você pensa e muito menos com o que sente. Ela acredita que a vida é assim: uma grande cartela de bingo em que ele passa o rodo, grita bingo e as mulheres passam pano para esse tipo de comportamento.

Karime Xavier / Folhapress



Boys lixo se multiplicam como boletos no começo do mês. E estamos sempre dispostos a pagar para ver. Já paguei para ver quando o boy lixo disse que eu era a mulher de sua vida e depois tomou a bebida favorita da espécie: chá de sumiço.

Mas a noite foi tão linda e o cristalzinho, eu, se achava tão especial que não queria acreditar que o “amor” acabou assim que a porta foi batida. Você primeiro acha que o telefone está sem bateria, que o príncipe está ocupado no trabalho, que morreu atropelado, menos o óbvio: o boy lixo não te quer mal, apenas não te quer mais, como diria Lulu Santos.

Mas a gente é trouxa e não desiste nunca e repete a experiência com outros da mesma cepa e com a mesma conversa fiada. Repeti até já nem me espantar e eu mesma servir o “chá” antes de ser rejeitada novamente.

Há o tipo que te mantém como uma samambaia. Ele rega um pouco todos os dias e você se sente resplandecente e úmida com tanta atenção. Então, ele começa a podar seus galhos, suga sua energia, sufoca sua raiz, até que você fica seca, sem vida e ele te abandona num cantinho sem luz.

Tem muito boy lixo pós-graduado, aquele que defende a igualdade entre os gêneros, escreve textão com hastagh “the future is female”, divide as contas, chora quando vê a Amazônia queimando, lê filosofia, faz planos de casamento, mas no presente transa com a colega de trabalho na hora do almoço.

Todo mundo sabe que é boy lixo. No fundo, a gente também sabe, mas a paixão burra nos faz acreditar que seremos o momento de mudança, de redenção da vida bandida, seremos a salvação do boy lixo, que não quer se salvo, quer apenas viver um romance de duas horas, gozar e ir embora. E repetir apenas quando ele quiser.

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