Difícil contabilizar o saldo das manifestações contra Jair Bolsonaro, mas a conta é certamente negativa para o governo. Mesmo com pandemia e sem vacina, o volume de gente nas principais capitais do país deveria ser suficiente para acender o alerta vermelho --e isso não é uma analogia-- na Presidência.
Diferentemente dos manifestantes pró-Bolsonaro, que vêm dando demonstrações de apoio desde o começo da crise sanitária, sem medo de se aglomerar, de se infectar e de morrer, a maioria das pessoas que saiu de casa neste sábado (29) preferia continuar na segurança dela.
Mas como diz o meme: quando o povo vai para a rua para pedir a saída de Bolsonaro, é porque Bolsonaro é pior do que o vírus.
A rejeição ao presidente, já demonstrada pelas últimas pesquisas e pelos panelaços, começa a ganhar as ruas, mesmo que timidamente. E o dia de hoje pode ter sido o ponto da virada em que a falta de vacina, que impede opositores de se manifestar, seja também a razão que fará com que cada vez mais gente perca o medo de enfrentar a pandemia para derrubar o presidente.
É verdade que as cores dos partidos de esquerda e de movimentos sindicais emprestaram colorido ao evento, mas com pouca participação de políticos de projeção nacional e sem discursos, o que garantiu o protagonismo das bandeiras que unem quem protesta contra as mortes, contra a negligência e contra a incompetência de Bolsonaro.
Protocolos de segurança, como o distanciamento e o uso de máscara, foram respeitados. Tudo isso pode dar ânimo e coragem a quem ainda opta, com toda a razão, por manter o isolamento social.Com mais segurança e com a pauta #ForaBolsonaro unificada, é provável que veremos cada vez mais gente se arriscar em futuros eventos contra o governo, que não sejam apenas palanque para eventuais candidaturas na eleição do ano que vem.
Governistas correram para as redes sociais para praticar seu esporte favorito: o negacionismo. Muitas fotos em que aparecem poucas pessoas, no começo ou dispersão das manifestações, ao mesmo tempo em que cobravam pelas "aglomerações".
Além de um festival de robôs, acionados para subir tags de apoio a Bolsonaro, detectados pela plataforma Bot Sentinel, que rastreia a atividade de contas falsas. Gabinete do Ódio teve trabalho, hoje. Para o próprio Bolsonaro a leitura das manifestações de hoje não é tão simples para o seu futuro.
Sem vacina, sem povo na rua. A grande questão é: se grande parte da população já estivesse vacinada e pudesse exercer seus direitos políticos sem medo, qual o tamanho das manifestações deste sábado?
Certamente o presidente, tão acostumado com a adulação de seus seguidores, não deve querer saber.Mas sem vacina, com as mortes em escalada, economia em frangalhos, fome e país empobrecido, sua reeleição fica cada vez mais comprometida à medida que sua culpa é mais escancarada, não apenas nas sessões da CPI da Covid, mas em todas as camadas da população. Se impeachment depende de povo na rua, é para lá que o povo vai.
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