Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Todo mundo ficou velho e feio na pandemia

Um leitor disse que tenho um dos melhores textos da imprensa brasileira, mas preciso atualizar a foto de 'cocota'

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Um leitor disse que tenho um dos “melhores textos da imprensa brasileira”, mas preciso atualizar a foto “de cocota”, que ilustra esta coluna, porque “todo mundo sabe que já passou dos 50”. Tentei focar o elogio –obrigada, caro William T., eles são bem raros nos dias de hoje. Estou mais acostumada com “comunista”, “esquerdalha”, “liberalóide”, “patricinha”, sem falar nos ataques sexistas. Nada disso faz sentido, mas o leitor tem direito de pensar o que quiser. Daí dizer que já passei dos 50 é um pouco demais.

Oficialmente, faço 50 anos em dezembro, mas tenho achado justo pela primeira vez na vida enganar o calendário, os amigos e eu mesma, repetir os 49, e deixar para completar meio século de vida só final do ano que vem, se a variante delta e os abestados antivacina permitirem. Assim, já celebro meu aniversário e o #foraBolsonaro com um baita festão.

A foto mencionada pelo caro William, de fato, deve estar no site da Folha desde 2016 ou 2017. Eu não havia mudado tanto nos anos seguintes e me gabava de parecer mais nova do que dizia minha identidade. Antes de ser atropelada pela pandemia, claro. Em minha defesa, acho que todo mundo ficou mais velho, mais feio, mais desanimado. Se não é seu caso, sim, você é um privilegiado.

A colunista Mariliz Pereira Jorge - Arquivo pessoal

Meus amigos e colegas de trabalho estão péssimos. Por outro lado, estão vivos, o que é quase um milagre para quem vive uma pandemia com um lunático genocida na presidência. Talvez eles não gostem de ler isso, mas não conheço ninguém que esteja melhor de lá para cá.

Reclamei de perder o olfato, que ainda está meio capenga, mas nada perto do estrago feito no relógio biológico, que deu um duplo twist carpado e me transformou numa senhorinha cansada. Tudo ficou pior de lá para cá, as dores na lombar, a insônia, o mau humor, a visão. Se antes era apenas para ler, agora me pego usando óculos para enxergar a comida no prato.

Liberaram a academia e a praia, mas só quero ficar dentro de casa, alimentando meu quadril, a única coisa que tem prosperado. Meus cabelos brancos eram raros, agora eles gritam sempre que me olho no espelho, onde todos os dias uma ruga nova me dá bom dia. Nunca fui de sentir frio e agora vivo de pantufas dentro de casa. Todo mundo sabe que pantufas são sinais claros de que a terceira idade chegou.

Talvez a Folha deva mesmo atualizar os retratos de seus colaboradores mais antigos para que não seja acusada de novo de espalhar fake news.

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