Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Aqui é Brasil, porra!

Desde ontem, sinto quase uma felicidade; mais de 100 milhões de pessoas vacinadas totalmente contra a Covid

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Fazia tempo que eu não sentia uma alegriazinha dessas coletivas, dessas que só acontecem quando são sobre todos nós e não apenas sobre o mundo ao redor do meu umbigo. Desde ontem, sinto quase uma felicidade, fico envergonhada em dizer, mas bateu por aqui um sentimento de orgulho. Mais de 100 milhões de pessoas vacinadas totalmente contra a Covid, quase 50% da população. Ao ouvir o noticiário, soltei um inaudível, “aqui é Brasil, porra”.

Mas à medida que a informação avançava, fui tomada de uma esperança que há muito não sentia. Mais de 150 milhões já receberam a primeira dose. “Aqui é Brasil, porra”, disse ainda baixinho. As vacinas demoraram a chegar, foram boicotadas pelo Naro, mas graças à nossa estrutura e nossa tradição em imunização, aceleramos o processo. “Aqui é Brasil, porra!”, gritei na janela. E o Brasil é muito mais do que esse capitão genocida que afundou a autoestima de um país inteiro.

Profissional da saúde aplica vacina no braço de uma pessoa
Profissional de saúde aplica vacina contra a Covid em São Paulo - Rahel Patrasso - 26.jul.2021/Xinhua

Aqui é Brasil, porra. Lamento pelo palavrão, mas vergonhosas são as manchetes diárias nos jornais sobre a devastação que essa nuvem bolsonarista causa ao país. Fome, desemprego, inflação, queimadas, terraplanismo científico, sem falar no mau gosto. A gente é mais. Não adianta aquele gafanhoto que ocupa a presidência boicotar nosso presente e nosso futuro. Temos um passado que não será apagado. Aqui é Brasil, porra.

Aqui tem gente de toda cor, como já dizia a música. Tem raça de toda fé, tem guitarra de rock’n’roll, tem batuque de candomblé. Tem Carnaval, tem procissão, tem missa, tem orgia, tem rave, tem lavagem do Bonfim, tem São João, tem até festa do peão, que eu sou contra, mas tem.

Aqui é Brasil, porra. Aqui a gente anda com fé para poder caetanear nos bailes da vida. Vai passar. Apesar de você, Naro, vai passar. A gente se levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Tomara que você me entenda ou eu faço oferenda pro meu orixá. Quando penso no futuro não esqueço meu passado.

Tem mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros. Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder de si. Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos. Repara bem no que não digo. Eu queria sair de tudo o que eu era, para entrar num destino melhor.

Isso é um resumo do nosso Brasil. Somos feitos de Gil, Ivete, Caetano, Chico, Beth, Mart’nalia, Marisa. Nossos corações batem ao compasso de Cora, Machado, Hilda, Leminski, Guimarães.

Aqui a gente aplaude o pôr do sol, abraça desconhecido, gosta de farofa, toma banho todos os dias, leva quentinha do restaurante, toma chimarrão na praia, joga flores pra Iemanjá e caminha até Aparecida, tempera com dendê, mistura um pouco, come com torresmo, passa o Réveillon de branco.

Hoje, ao ver o sucesso da vacinação, apesar de você, Naro, eu me reencontrei com esse Brasil, feito de um povo trabalhador, festeiro, amoroso e responsável. Que sabe que o mundo é redondo, que vacina salva vidas, que “gente é para brilhar, não para morrer de fome”.

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