Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu

Por que alguns jogadores do futebol inglês não querem mais se ajoelhar em campo?

Cada vez mais atletas questionam o gesto ligado à luta antirracista

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Se antes de uma partida do Chelsea você vir todos os jogadores ajoelhados, menos o Marcos Alonso, não estranhe. O espanhol foi mais um a dizer que parou de fazer isso. Admitiu que não conversou antes com os companheiros, vários deles vítimas de atos racistas. Acredita que o gesto perdeu força e prefere apontar para o escudo no uniforme que diz “não há lugar para racismo.”

Ajoelhar-se em campo, em solidariedade ao movimento Vidas Negras Importam, é comum no futebol inglês desde meados de 2020. Mas o caso de Alonso, um atleta branco, não é o primeiro e certamente não será o último.

Jogadores de Aston Villa e Manchester City fazem protesto contra o racismo
Jogadores de Aston Villa e Manchester City fazem protesto contra o racismo - Michael Steele - 21.abr.21/Reuters

Wilfried Zaha, do Crystal Palace, parou de se ajoelhar porque considera degradante. Disse que os pais o ensinaram a ficar de pé e ter orgulho de ser negro. Para Ivan Toney, do Brentford, também negro, os jogadores viraram marionetes e nada mudou. Este ano, entrevistei o goleiro do Boreham Wood, da quinta divisão, para uma reportagem da Folha sobre racismo. Nathan Ashmore contou que sofreu discriminação a vida toda, mas que não se ajoelha mais porque “a mensagem se perdeu.”

O técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, é um grande defensor do gesto. Depois que jogadores da seleção inglesa foram vaiados enquanto estavam ajoelhados em campo, precisou ir a público explicar o óbvio: o ato não é político, mas sim em defesa de uma causa na qual eles acreditam.

O racismo sofrido por jogadores nos estádios e nas redes sociais é um problema real e constante na Inglaterra. A cada rodada, uma história horrenda. O roteiro que vem na sequência é parecido: clubes divulgam notas de repúdio, empresas de tecnologia lamentam, e acontece de novo.

Reece James, companheiro de Alonso, chegou a deletar a conta no Instagram tamanho o abuso que sofria. Marvin Sordell, ex-jogador da Premier League, pensou em suicídio depois das incontáveis ofensas que recebeu ao longo da carreira.

Organizações que lutam contra o racismo, Federação de Futebol da Inglaterra, sociedade e imprensa esportiva pressionam as autoridades por medidas práticas. Algumas estão em andamento. Um projeto de lei que tramita no parlamento britânico promete multas pesadas para empresas de tecnologia que falharem em proteger os usuários. Em julho, dois dias depois de a Inglaterra perder a final da Eurocopa para a Itália, um homem postou um vídeo com conteúdo racista. A polícia rastreou a mensagem, e ele foi preso.

Mas, em geral, punições não são fortes o suficiente para gerar uma mudança de comportamento. Esta semana, a Fifa anunciou multa de 200 mil francos suíços (R$ 1,15 milhão) para a Federação Húngara de Futebol e duas partidas com portões fechados depois que jogadores ingleses foram alvos de atos racistas por parte de torcedores da Hungria durante as eliminatórias para a Copa de 2022. É pouco.

Não tenho lugar de fala, mas perguntei a amigos que têm. As opiniões se dividem. Para uns, é preciso continuar com o protesto antirracista em campo porque ele chama a atenção para o assunto e estimula a reflexão. Outros concordam que a imagem é poderosa, mas se for só para as câmeras de TV, sem uma mudança concreta, não faz sentido.

Fato é que o simples gesto que dura segundos antes de um jogo não acaba com o racismo, mas expõe o problema para os milhões que estão assistindo. A maior liga de futebol do mundo sabe que precisa se posicionar. Alonso reacendeu o debate sobre qual a melhor forma de dar o exemplo.

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