Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu LGBTQIA+

Histórias como a de Josh Cavallo precisam ser contadas

Apoio ao jogador australiano que se declarou gay mostra poder de influências positivas

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Há 31 anos, o inglês Justin Fashanu foi o primeiro jogador de futebol profissional a assumir que era gay. A reação foi a pior possível. Fashanu se mudou para os Estados Unidos, foi acusado de estuprar um menor de idade e, em 1998, cometeu suicídio. Deixou uma carta dizendo que era inocente e não teria um julgamento justo porque era homossexual.

A história trágica ainda é usada como referência na Inglaterra sobre o que pode acontecer se um atleta fala sobre sua homossexualidade. Mas essa percepção está mudando.

Nesta semana, um jovem de 21 anos começou o que pode ser uma mudança definitiva no esporte. Josh Cavallo, meio-campo do Adelaide United, da Austrália, tornou-se o único jogador de futebol em atividade em uma liga de elite nacional a assumir que é homossexual. No vídeo publicado nas redes sociais, respirou fundo, disse que tinha medo de ser tratado de maneira diferente, mas que era exaustivo ter uma vida dupla. Desta vez, o apoio foi total.

Josh Cavallo diz estar confiante e aliviado - Divulgação/Adelaide United

Gerard Piqué escreveu: "Obrigado por ter dado esse passo. O mundo do futebol está muito atrás, e você está nos ensinando a progredir". Zlatan Ibrahimovic, Marcus Rashford, David de Gea, Jordan Henderson, Antoine Griezmann, Liverpool, Juventus, Barcelona e Arsenal também se manifestaram.

Cavallo nasceu um ano depois que Fashanu tirou a própria vida. Desde então, esporte e sociedade evoluíram. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido por lei na Inglaterra desde 2013. Atletas britânicos que tornaram pública a própria orientação sexual receberam apoio, como o campeão olímpico de saltos ornamentais Tom Daley e o ex-capitão da seleção de rúgbi do País de Gales Gareth Thomas.

No futebol inglês, cantos homofóbicos estão banidos há quase 15 anos. Há torcidas ligadas à comunidade LGBT+ e campanhas como o Rainbow Laces –"cadarços cor do arco-íris"– promovem o debate. Mesmo assim, ainda não há um jogador assumidamente gay na Premier League.

Conversei com o jornalista e escritor Jon Holmes, fundador do Sports Media LGBT+, grupo baseado em Londres que luta por inclusão no esporte e no jornalismo. Para Holmes, ainda existe o medo de reações negativas, aliado à pressão por resultados no futebol. Mas ele é otimista. Acredita que com as campanhas educativas a linguagem homofóbica nos vestiários diminuiu, que há a compreensão de que é algo ofensivo e que pode refletir na saúde mental de um jogador.

Holmes, que é homossexual, critica a forma sensacionalista como tabloides britânicos tratam o assunto, como a manchete deste mês no The Sun sobre um "jogador misterioso gay com medo de assumir-se".

"Não temos um jogador profissional gay ou bissexual no Reino Unido. Então, esse medo é amplificado, mas, na minha experiência e no meu entendimento, os vestiários são um lugar inclusivo. Há jogadores que apoiariam se um companheiro assumisse sua homossexualidade. Embarcamos muito rapidamente em narrativas de medo e angústia", disse Holmes.

Ele lembra a importância do jornalismo em estimular a inclusão. Saber o que aconteceu com Fashanu deixou Cavallo preocupado, mas o australiano se inspirou em outro caso, com final feliz: o do jogador inglês Thomas Beattie, que assumiu a homossexualidade em 2020 ao se aposentar. Existem histórias positivas de atletas que foram aceitos e se sentiram acolhidos. Só é preciso contá-las.

Um dia depois de dar uma lição de coragem para o mundo, Cavallo concedeu uma entrevista sorridente, dizendo-se confiante, aliviado e pronto para ser um atleta melhor. Pode ter certeza: ele vai continuar sendo um bom jogador e ajudando seu time. Só vai ser mais feliz.

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