Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Para muitos, Djokovic passou de ídolo a decepção

Em mais uma polêmica ligada à vacinação, sérvio sai com a reputação destruída

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Estive bem perto de Novak Djokovic duas vezes, em torneios de tênis em Londres antes da pandemia. No ATP Finals, o sérvio passou por mim e sorriu com simpatia ao fim de uma partida. Em Wimbledon, eu o entrevistei depois de uma final incrível de mais de cinco horas contra Roger Federer.

Djokovic tinha uma aura encantadora, era um ídolo, campeão, bom exemplo, engraçado. Todos queriam estar próximos dele. Agora, é uma figura extremamente controversa e, para muitos fãs, uma decepção.

Quem acompanha esporte lembra que, em junho de 2020, em um mundo sem vacinas e com incontáveis vidas sendo perdidas todos os dias para o coronavírus, Djokovic organizou um torneio com público na Sérvia e na Croácia. Vários tenistas se infectaram, inclusive ele.

Novak Djokovic se tornou uma figura controversa - Ed Jones - 2.set.21/AFP

O mau exemplo pelas declarações que deu contra a imunização rendeu apelidos de "Novax" e "No-vac". Mas o número um do mundo, que nunca revelou seu status de vacinação, agora é motivo de chacota. Muito já se sabe sobre a novela do Aberto da Austrália, que começa na semana que vem, mas alguns pontos ainda não estão claros.

Para entrar no país, visitantes estrangeiros precisam estar totalmente vacinados ou ter uma exceção médica. Djokovic anunciou que tinha conseguido a isenção e seguiu para Melbourne. Na chegada ao aeroporto, a permissão aprovada pela federação australiana de tênis não foi aceita pelo governo federal por falta de evidência e o visto foi cancelado. O tenista foi mandado para um hotel de quarentena até a decisão sobre a deportação dele, prevista para segunda-feira (10) na Austrália.

Atual campeão do torneio e em busca do 21º título de Grand Slam que o faria ultrapassar Federer e Rafael Nadal, Djokovic parece não entender que ninguém, nem ele, está acima da lei. Ao tentar competir a qualquer custo, deu com a cara na porta de um país sério que ainda enfrenta restrições, mesmo com 90% da população duplamente vacinada.

Se a reação dos australianos foi de indignação e gerou uma crise diplomática que envolveu até o primeiro-ministro, a de tenistas foi de desdém. Jamie Murray ironizou, dizendo que, se ele tivesse pedido uma permissão, provavelmente não teria conseguido. Nadal deu lição de moral e disse que "o mundo já sofreu o bastante para que não sigamos as regras".

Algumas perguntas ficam: por que a exceção médica não foi aceita pela imigração? Existe a hipótese, não confirmada, de que Djokovic apresentou uma comprovação de infecção recente por Covid-19, mas foi esse o critério para a liberação? E a reputação do torneio, que concedeu outras permissões?

Se entrar no país, quanto a preparação dele estará prejudicada, já que passou horas em um voo, outras tantas no aeroporto, dias isolado em um hotel? Como fica a carreira de um atleta de 34 anos que vai ter dificuldades de entrar em outros países? Se ele tem justificativa médica que o impeça de tomar a vacina, por que não se explicar? Como uma pessoa pública e ídolo, não seria mais honesto e esclareceria a situação?

Independentemente do fim da história, o caso mostra que a paciência com não vacinados é cada vez menor. É uma escolha pessoal não se imunizar, mas nossa liberdade individual termina quando afeta o outro. Djokovic sabia das regras. Mesmo se conseguir competir, sairá com a reputação destroçada. Para quem não está acostumado a perder, deve ser duro ser o protagonista do primeiro grande vexame do esporte em 2022.

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