Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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O céu está mais cinza sobre o estádio azul do Chelsea

Sanção a Abramovich deixa clube em limbo e reabre debate sobre sportswashing na Inglaterra

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Em frente a Stamford Bridge, não se fala sobre a vitória da noite anterior sobre o Norwich. Caminhando nos arredores do estádio do Chelsea, em um bairro de classe média alta de Londres, vejo um casal ser barrado pelo segurança ao tentar ir à loja oficial. Está fechada. Entro na recepção do hotel, dentro do complexo, e pergunto até quando será proibido fazer novas reservas. "Ninguém nos fala nada", um funcionário me diz. Em um café brasileiro do outro lado da rua, todos estão preocupados. "O que traz as pessoas para o bairro é o clube. Se ele quebra, a gente quebra também", diz uma atendente.

Era para ser um momento dos sonhos. O Chelsea é atual campeão do Mundial de Clubes, disputa a Liga dos Campeões, a Copa da Inglaterra, está em terceiro lugar na Premier League. Mas, enquanto o time seguia para o leste do país para mais uma partida, a ameaça se concretizou.

Na última quinta-feira (10), o dono do clube, Roman Abramovich, entrou na lista de sanções do governo britânico que, em um documento oficial, chama-o de "oligarca pró-Kremlin" que tem com Vladimir Putin "ligação próxima há décadas" e cuja empresa na qual tem participação "potencialmente fornece aço para o exército russo que pode ter sido usado na produção de tanques".

Stamford Bridge vive dias sombrios - Peter Nicholls/Reuters

As sanções impedem que Abramovich ganhe dinheiro no Reino Unido. Seus bens foram congelados, e isso inclui o Chelsea. Para que o clube continue operando e salários sejam pagos, o governo concedeu uma licença até 31 de maio. Os times podem jogar até o fim da temporada, com transmissão na TV, e o Chelsea receberá por isso –o dinheiro ficará congelado.

Mas um dos clubes mais poderosos do planeta agora tem limite de gastos em viagens –o que, possivelmente, restringe hospedagens luxuosas ou voos particulares. Desde o último dia 10, não pode vender camisas ou ingressos. Apenas sócios-torcedores irão aos jogos porque as transações financeiras já foram feitas. É proibido contratar ou fazer renovações, o que talvez afete o futuro de Cézar Azpilicueta, Antonio Rudiger e Andreas Christensen, cujos contratos se encerram ao fim da temporada.

Vale lembrar que a janela de transferências se abre em junho e nada impede que a licença seja modificada. E, como as sanções são sobre Abramovich, quando ele não for mais o dono, há chances de que tudo volte ao normal. Mas ele pode vender? Nos termos atuais, não, mas o governo parece aberto a emitir nova autorização para isso, se o dinheiro não for para o russo.

Pichação em Stamford Bridge diz que é a Europa que está financiando a guerra, não o Chelsea; boa parte da torcida apoia Roman Abramovich - Peter Nicholls/Reuters

Um patrocinador suspendeu o contrato com o Chelsea, e o caso reaqueceu o debate sobre sportswashing –quando um país, organização ou indivíduo tenta limpar a própria imagem por meio do esporte. É o começo do fim da prática no futebol inglês? Difícil. Desde que Abramovich comprou o clube, há 19 anos, o time masculino conquistou 21 troféus, incluindo dois da Liga dos Campeões, cinco da Premier League e, mais recentemente, o do Mundial de Clubes.

Parte dos torcedores o defende cegamente, seja cantando seu nome –inclusive durante homenagem às vítimas da guerra– seja na pichação em um muro perto do estádio, onde se lê: "A Europa financia a guerra, não o Chelsea. Deixe nosso clube em paz".

Fato é que o futuro de um dos clubes de maior prestígio do mundo é incerto. A placa em Stamford Bridge diz que os ingressos para o jogo de domingo contra o Newcastle estão esgotados. Talvez, pela última vez na temporada.

Ingressos estão esgotados, talvez pela última vez - Peter Nicholls/Reuters

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