O Museu do Design, um dos mais legais de Londres, estreou a exposição "Futebol: projetando o jogo bonito". Um mergulho no passado através de mais de 500 objetos que mostram como a inovação e o design transformaram o esporte. Mas não só isso.
Na entrada, o som de uma narração faz o visitante se sentir em uma partida de futebol. Começa então uma aula por mais de duzentos anos de história. O Brasil, claro, é homenageado.
Ao lado da primeira chuteira de George Best está a que Pelé usou na Copa do Mundo de 1970. Calçados de Ronaldo Fenômeno, Zidane, Messi e Mia Hamm estão na mesma vitrine.
A parede com dezenas de uniformes inclui os do Flamengo e do Palmeiras de 1990. Um está em destaque: o que o Rei do Futebol vestiu no Mundial de 1958. Ali, a gente aprende a origem da camisa canarinho. O branco foi banido após a derrota para o Uruguai no jogo final de 1950. O novo uniforme, que deveria ter as cores da bandeira do Brasil, foi escolhido em um concurso.
A foto de um Chelsea x Arsenal de 1928 mostra uma das primeiras vezes que números teriam sido usados nas camisas. Segundo relatos, a imprensa gostou da novidade que ajudava a identificar os jogadores. Ao lado, vemos como nosso futebol ainda é preconceituoso. Outra foto mostra Gabigol usando o 24, no Flamengo, em demonstração contra a homofobia.
A mostra ensina como as poucas opções de fabricação de antigamente limitaram a criatividade do design de uniformes e, por isso, tantos clubes no mundo usam cores parecidas, como listras em preto e branco. E tem tom crítico ao lembrar que a demora em criar chuteiras específicas para mulheres atrasou a evolução do futebol feminino.
Outra sala exibe os coloridos pôsteres oficiais dos Mundiais, inclusive os que nosso país sediou. E é curioso ver a bola enorme e pesada do século 19, feita de bexiga de animais e usada pela elite da Inglaterra – era proibido cabeceá-la, seria perigoso e dolorido – ao lado dos modelos tecnológicos atuais.
Dá para apreciar a genialidade de engenheiros e arquitetos que criaram estádios que aliam beleza, modernidade e segurança. E perceber como o design chega a nós, em peças como o futebol de botão e o álbum de figurinhas da Copa.
Se por acaso você visitar Londres até o fim de agosto e for à exposição, certamente vai se identificar com algo. No meu caso, foi a mascote da Copa de 1990. Ver o boneco que parece feito de Lego com as cores da bandeira da Itália me trouxe a lembrança de quando assisti ao meu primeiro Mundial.
O esporte está intimamente ligado a quem nos tornamos. Quando olho raias de piscina me lembro da escolinha de natação; um berimbau, da capoeira que fiz por anos; a bola colorida me transporta para um jogo de vôlei de praia. Cada um tem sua própria memória carinhosa, graças à ideia de alguém que, um dia, criou esses objetos.
Por coincidência, assisti esta semana ao filme Caçadores de Obras-Primas, sobre o resgate de obras de arte roubadas por Hitler na Segunda Guerra Mundial. É baseado em fatos reais e não sei o quanto é verdade, mas um dos personagens diz: "Você pode exterminar uma geração, queimar suas casas, e essas pessoas, de alguma forma, encontrarão um caminho. Mas, se destruir sua história, seus feitos, é como se elas nunca tivessem existido".
Exposições como essa nos lembram o lado bonito do esporte e como ele ajuda a moldar nossas vidas, sem que às vezes nem percebamos. De fato, futebol é arte.
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