Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Exposição em Londres homenageia seleção brasileira e Pelé

Mostra de design nos lembra por que amamos o esporte e gera em cada um de nós uma memória carinhosa da infância

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Londres

O Museu do Design, um dos mais legais de Londres, estreou a exposição "Futebol: projetando o jogo bonito". Um mergulho no passado através de mais de 500 objetos que mostram como a inovação e o design transformaram o esporte. Mas não só isso.

Na entrada, o som de uma narração faz o visitante se sentir em uma partida de futebol. Começa então uma aula por mais de duzentos anos de história. O Brasil, claro, é homenageado.

Ao lado da primeira chuteira de George Best está a que Pelé usou na Copa do Mundo de 1970. Calçados de Ronaldo Fenômeno, Zidane, Messi e Mia Hamm estão na mesma vitrine.

Modelo da chuteira usada por Pelé na Copa do Mundo de 1970, no México
Modelo da chuteira usada por Pelé na Copa do Mundo de 1970, no México - Marina Izidro/Folhapress

A parede com dezenas de uniformes inclui os do Flamengo e do Palmeiras de 1990. Um está em destaque: o que o Rei do Futebol vestiu no Mundial de 1958. Ali, a gente aprende a origem da camisa canarinho. O branco foi banido após a derrota para o Uruguai no jogo final de 1950. O novo uniforme, que deveria ter as cores da bandeira do Brasil, foi escolhido em um concurso.

A foto de um Chelsea x Arsenal de 1928 mostra uma das primeiras vezes que números teriam sido usados nas camisas. Segundo relatos, a imprensa gostou da novidade que ajudava a identificar os jogadores. Ao lado, vemos como nosso futebol ainda é preconceituoso. Outra foto mostra Gabigol usando o 24, no Flamengo, em demonstração contra a homofobia.

A mostra ensina como as poucas opções de fabricação de antigamente limitaram a criatividade do design de uniformes e, por isso, tantos clubes no mundo usam cores parecidas, como listras em preto e branco. E tem tom crítico ao lembrar que a demora em criar chuteiras específicas para mulheres atrasou a evolução do futebol feminino.

Outra sala exibe os coloridos pôsteres oficiais dos Mundiais, inclusive os que nosso país sediou. E é curioso ver a bola enorme e pesada do século 19, feita de bexiga de animais e usada pela elite da Inglaterra – era proibido cabeceá-la, seria perigoso e dolorido – ao lado dos modelos tecnológicos atuais.

Camisa utilizada pelo Rei no Mundial de 1958, na Suécia
Camisa utilizada pelo Rei no Mundial de 1958, na Suécia - Marina Izidro/Folhapress

Dá para apreciar a genialidade de engenheiros e arquitetos que criaram estádios que aliam beleza, modernidade e segurança. E perceber como o design chega a nós, em peças como o futebol de botão e o álbum de figurinhas da Copa.

Se por acaso você visitar Londres até o fim de agosto e for à exposição, certamente vai se identificar com algo. No meu caso, foi a mascote da Copa de 1990. Ver o boneco que parece feito de Lego com as cores da bandeira da Itália me trouxe a lembrança de quando assisti ao meu primeiro Mundial.

O esporte está intimamente ligado a quem nos tornamos. Quando olho raias de piscina me lembro da escolinha de natação; um berimbau, da capoeira que fiz por anos; a bola colorida me transporta para um jogo de vôlei de praia. Cada um tem sua própria memória carinhosa, graças à ideia de alguém que, um dia, criou esses objetos.

Por coincidência, assisti esta semana ao filme Caçadores de Obras-Primas, sobre o resgate de obras de arte roubadas por Hitler na Segunda Guerra Mundial. É baseado em fatos reais e não sei o quanto é verdade, mas um dos personagens diz: "Você pode exterminar uma geração, queimar suas casas, e essas pessoas, de alguma forma, encontrarão um caminho. Mas, se destruir sua história, seus feitos, é como se elas nunca tivessem existido".

Exposições como essa nos lembram o lado bonito do esporte e como ele ajuda a moldar nossas vidas, sem que às vezes nem percebamos. De fato, futebol é arte.

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