Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Descrição de chapéu tênis Rússia

Wimbledon permite Djokovic e proíbe russos

Torneio que existe há quase 250 anos tenta se manter longe de controvérsias

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"Wimbledon" e "polêmica" não combinam. A palavra que mais se associa ao torneio é "tradição". Se você conseguir um disputadíssimo ingresso, vai provar a sobremesa típica –morangos com creme– assistindo a tenistas de branco, em um lugar cheio de classe em um subúrbio rico de Londres. Se der sorte, cruzará com um integrante da Família Real.

Isso é Wimbledon. Polêmica é um atleta quebrar o protocolo de vestimenta.

O torneio existe desde 1877, é uma sólida instituição britânica e sabe disso. Lembro como ignorou a Copa do Mundo em 2018, disputada na mesma data. Não mudou o calendário e se recusou a mostrar jogos de futebol, mesmo os da Inglaterra.

Wimbledon é apegado ao branco e às suas tradições - Toby Melville - 14.jul.19/Reuters

Semana passada, organizadores anunciaram a proibição de atletas russos e belarussos na edição que começa no fim de junho. Foi o primeiro grande torneio de tênis a fazer isso. Jornalistas russos também estão barrados. Agora, voltou às manchetes ao permitir a participação de tenistas não vacinados. Pode parecer confuso, e é. Mas sempre digo que precisamos entender o contexto de certas decisões, mesmo que não concordemos com elas.

Tenistas dos dois países participam de torneios da ATP e da WTA sob bandeira neutra –o que não é um banimento de fato. A justificativa de Wimbledon é estar em linha com a orientação do governo para que organizações esportivas limitem a influência russa em eventos no país. Reino Unido, opinião pública e imprensa são contra a invasão da Rússia à Ucrânia. A guerra é relativamente perto de nós, é mostrada o tempo inteiro na televisão, e já vemos consequências econômicas no nosso dia a dia.

Ao deixar de fora nomes como o número dois do mundo, Daniil Medvedev, o número oito, Andrey Rublev, a quarta do ranking, Aryna Sabalenka, e a ex-número um Victoria Azarenka, o All England Tennis Club disse que o regime de Vladimir Putin não pode se beneficiar da participação de russos e belarussos. O chamado soft power.

Daniil Medvedev acena para o público de Wimbledon em 2021; número dois do mundo está fora da edição 2022 do tradicional torneio britânico - Peter Nichols - 3.jul.21/Reuters

Quem defende diz que o esporte não pode se omitir. Os críticos, que a decisão pune indivíduos por ações tomadas por governos; que tenistas, fora exceções como na Copa Davis e em Olimpíadas, jogam por si, não por seus países. Rublev escreveu "sem guerra, por favor" na lente da câmera no ATP de Dubai, e Azarenka condenou o conflito em um tuíte. Só vale lembrar que, quando Medvedev ganhou o US Open, Putin deu parabéns publicamente, dizendo que "assim jogam campeões de verdade". Soft power.

Também não entendo quem acha certo banir equipes russas, mas não indivíduos, posição adotada por Martina Lavratilova, nove títulos de simples em Wimbledon. Se uma equipe é formada por vários indivíduos, não é a mesma coisa?

E o não vacinado Novak Djokovic, que agora poderá disputar o torneio? A explicação parece simples. Ele continua errado ao decidir não se imunizar, as prioridades é que mudaram aqui no Reino Unido. A campanha de vacinação foi um sucesso, restrições de viagem e circulação acabaram, a Covid-19 é tratada com mais normalidade. É só por isso que o sérvio participará.

Após a Segunda Guerra Mundial, Wimbledon baniu japoneses e alemães do torneio. O caso atual pode acabar na Justiça, mas evitaria uma saia justa. E se um belarusso tiver que jogar contra um ucraniano? Ou imagine a duquesa Kate Middleton entregando o troféu de campeão para Medvedev em frente ao público britânico? É como aquele penetra em uma festa de gala dentro da sua casa.

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